Em meio ao intricado jogo de poder em Brasília, a nomeação do secretário de Segurança Pública de São Paulo, Guilherme Derrite (PP-SP), como relator do Projeto de Lei Antifacção do governo Lula, gerou uma onda de críticas e levantou questionamentos sobre os verdadeiros propósitos por trás da decisão. Como analista do D-Taimes, mergulho nas entranhas dessa movimentação que expõe as tensões pré-eleitorais de 2026 e a batalha pelo discurso da segurança pública no país.
A Relatoria em Xeque: Objetivos Eleitoreiros ou Combate ao Crime?
A ministra das Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann (PT), foi uma das primeiras a soar o alarme, denunciando que a escolha de Derrite para a relatoria “contamina o debate com os objetivos eleitoreiros de seu campo político”. A veemência da crítica não é sem fundamento: Derrite, figura alinhada ao bolsonarismo e pré-candidato ao Senado por São Paulo, reassumiu seu mandato de deputado federal especificamente para assumir a relatoria do projeto.
O Projeto de Lei Antifacção, uma iniciativa do governo Lula, ganhou urgência após a brutal operação policial no Rio de Janeiro que resultou em 121 mortes. Sua meta é fortalecer o combate ao crime organizado, criando o tipo penal de “organização criminosa qualificada”, com penas que podem chegar a 30 anos em casos de homicídio praticado em nome da facção. O texto prevê ainda o aumento de penas por agravantes como envolvimento de menores, uso de armas de fogo restritas, infiltração de agentes públicos e ligações transnacionais, além de autorizar acesso a dados de geolocalização e transações financeiras de investigados e a criação de um Banco Nacional de Facções Criminosas.
O Tabuleiro Eleitoral de 2026
A decisão do presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), de entregar a relatoria a Derrite é lida nos corredores do Congresso como uma manobra estratégica que beneficia a direita e a extrema direita, consolidando a pauta da segurança pública como seu principal ativo para as eleições de 2026. Derrite, inclusive, já sinalizou que pretende propor mudanças consideradas por ele “essenciais” para o projeto.
Parlamentares da base governista reagiram com indignação. Lindbergh Farias (PT-RJ) classificou a escolha como um “desrespeito com o presidente Lula”, sugerindo um “interesse deliberado de não aprovar e de atrapalhar a tramitação” da pauta prioritária. Alencar Santana (PT-SP) foi além, qualificando a escolha de Derrite, “secretário fracassado do governo incompetente do Tarcísio do Bolsonaro”, como um “acinete à população de São Paulo e do Brasil”. A crítica ecoa na Assembleia Legislativa de São Paulo, com Guilherme Cortez (PSOL) ironizando a entrega da relatoria a um secretário que, em suas palavras, “entregou São Paulo de vez pro PCC”.
O Impacto no Cidadão Comum
Essa disputa política em torno de um tema tão sensível como a segurança pública, crucial para o dia a dia do cidadão comum, reflete uma perigosa instrumentalização do debate. Em vez de uma discussão técnica e focada em soluções eficazes para a criminalidade, o que se observa é uma clara estratégia para capitalizar politicamente sobre o medo e a demanda por segurança.
A promessa do governo Lula de um “debate consequente” sobre o combate ao crime organizado corre o risco de ser desvirtuada por interesses eleitorais, comprometendo a efetividade de uma legislação que é vital para desmantelar as estruturas criminosas que afligem o país. A ética na política e a transparência pública são postas à prova quando a gestão da segurança nacional se torna peça de barganha no xadrez eleitoral. O D-Taimes seguirá acompanhando de perto os desdobramentos dessa trama, buscando sempre descomplicar o poder e suas implicações para o Brasil.
