Por Alice Drummond, D-Taimes
Em um país onde a vulnerabilidade social ainda é uma chaga, a recente revelação do Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social (MDS) no Rio Grande do Norte acende um alerta vermelho sobre a intrincada relação entre poder político e a má gestão de recursos destinados aos mais necessitados. O “pente-fino” no programa Bolsa Família e Auxílio Gás desvendou uma realidade alarmante: parentes de 44 políticos potiguares foram identificados como beneficiários indevidos desses programas essenciais.
Como repórter e analista do D-Taimes, meu foco é exatamente este: desvendar como as decisões em gabinetes e centros de poder impactam diretamente o cidadão comum. E aqui, o impacto é doloroso. Familares de vereadores, vice-prefeitos e outros cargos públicos em cidades como Natal, Mossoró, Macaíba, Areia Branca, São José de Mipibu, Jandaíra e Triunfo Potiguar estavam, segundo o MDS, recebendo auxílios que deveriam amparar famílias em real situação de extrema pobreza.
Dos 44 casos, 41 envolviam parentes diretos de políticos em exercício, ou seja, cônjuges, filhos ou familiares próximos. É uma teia que expõe não apenas inconsistências cadastrais, como alegado pelo Ministério, mas um grave conflito de interesses e uma falha ética que corrói a confiança nas instituições. Quando programas sociais são permeados por tais práticas, a mensagem que se envia à população é de que o acesso aos benefícios ainda depende da proximidade com o poder, e não da real necessidade.
O MDS, por sua vez, afirma que a ação não possui caráter punitivo, mas visa corrigir distorções e fortalecer o controle sobre o uso do dinheiro público. Uma declaração que, embora necessária, soa insuficiente diante da gravidade dos fatos. Corrigir é fundamental, mas a prevenção e a responsabilização são igualmente cruciais para evitar que o dinheiro dos impostos, destinado a mitigar a fome e a pobreza, seja desviado, mesmo que indiretamente, por aqueles que deveriam zelar por ele.
Os dados do Rio Grande do Norte são eloquentes: entre janeiro e outubro deste ano, o estado viu 28,5 mil beneficiários serem desligados do Bolsa Família. Embora parte desses cortes possa ser atribuída à melhoria da renda familiar – um cenário positivo – a identificação dos parentes de políticos escancara um problema estrutural e de longa data: o uso político dos programas sociais e o acesso privilegiado de quem orbita o poder.
Esta reportagem do D-Taimes reitera a necessidade de um jornalismo que não apenas relate os fatos, mas os contextualize e aprofunde, questionando as dinâmicas econômicas e os desafios sociais. A verdade é que a exclusão de milhares de famílias do programa, seja por melhora de renda ou por irregularidades, precisa ser acompanhada de uma fiscalização implacável que assegure que a dignidade e a justiça social sejam a bússola de toda gestão pública. É inadmissível que, enquanto milhões batalham por condições mínimas, a proximidade com o poder se torne um atalho para privilégios indevidos.
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