Olá, apaixonados por esporte! Alex Braga aqui, direto para mais uma análise que respira competição. E hoje, o “esporte bretão” nos oferece um prato cheio: a forma como Palmeiras e Flamengo não apenas competem, mas dominam o cenário do futebol brasileiro, numa verdadeira ‘espanholização’ do nosso campeonato.
Há quase uma década, esses dois gigantes deixaram de ser meros protagonistas eventuais para se tornarem os arquitetos de uma nova era. É impossível ignorar a ascensão técnica aliada a uma gestão eficiente e finanças robustas que transformaram Palmeiras e Flamengo em símbolos de um projeto de poder sem precedentes no Brasil. Títulos, performance e uma regularidade competitiva que os colocam constantemente no topo, tanto em solo nacional quanto em disputas continentais.
Essa hegemonia compartilhada é um espelho do que vemos na La Liga, onde Real Madrid e Barcelona há anos ditam as regras, empurrando o Campeonato Espanhol para uma lógica de duopólio. No Brasil, estamos assistindo a uma dinâmica similar: dois clubes operando em uma velocidade própria, muito acima da concorrência, acumulando conquistas e redefinindo os rumos do nosso futebol.
Os números não mentem. Se olharmos para a Série A do Campeonato Brasileiro entre 2015 e 2024, Palmeiras e Flamengo ocuparam impressionantes 15 das 40 vagas no G4, ou seja, 37,5% do total. O Verdão, com oito aparições entre os primeiros e quatro títulos, e o Rubro-Negro, com sete aparições e dois troféus, demonstram uma constância que poucos conseguem sequer sonhar. Rivais históricos como Corinthians e Fluminense, por exemplo, ficam bem para trás nesse quesito.
Para o jornalista Paulo Calçade, uma voz sempre lúcida na análise esportiva, essa polarização não é apenas uma percepção interna. Ele ressalta que, ao viajar para jogos da Libertadores, Palmeiras e Flamengo são vistos no exterior como equipes de patamar europeu, comparáveis a potências como Real Madrid, Chelsea ou Manchester City.
Mas essa ascensão não veio da noite para o dia. Ambos os clubes viveram seus momentos de turbulência. O Palmeiras, com dois rebaixamentos para a Série B e um quase terceiro em 2014, precisou de uma profunda reestruturação administrativa, com injeção de capital e uma nova mentalidade de gestão, liderada por figuras como Paulo Nobre. O Flamengo, após a gloriosa era de Zico nos anos 80, amargou décadas de oscilação até que, em 2013, Eduardo Bandeira de Mello assumiu um clube endividado e implementou um plano de saneamento financeiro e reorganização estrutural de longo prazo.
A virada de chave, a partir de 2016, foi gradual, mas implacável. Desde então, o Palmeiras somou quatro Brasileirões e dois vices, enquanto o Flamengo conquistou dois títulos e três vices. Uma regularidade que transformou o cenário competitivo. Calçade aponta que o fator crucial foi o “desejo de fazer”, de romper com o modelo tradicional e buscar uma gestão mais profissional, uma lição aprendida “no fundo do poço” para ambos os clubes.
O impacto financeiro é visível. Em 2015, o valor dos elencos era mais equilibrado, com o São Paulo à frente e Flamengo e Palmeiras em posições modestas. Dez anos depois, a dupla se distanciou exponencialmente: o elenco palmeirense valendo 212 milhões de euros e o flamenguista 195 milhões de euros em 2025. Essa valorização se reflete na capacidade de atrair e manter talentos, concentrando 43% das contratações de maior impacto no futebol brasileiro.
A Libertadores da América é o palco onde essa supremacia se manifesta com mais clareza. Desde 2006, em 15 das 19 finais, tivemos a presença de pelo menos um clube brasileiro. E o mais notável: quatro dessas finais foram exclusivamente nacionais. Palmeiras e Flamengo, em particular, têm sido presenças constantes nas decisões desde 2019, inclusive se enfrentando na final de 2021 e, agora, na grande decisão de 2025 – um marco que coroará o primeiro clube brasileiro a conquistar o torneio continental pela quarta vez.
Olhando para o futuro, Paulo Calçade levanta um ponto crucial: a implementação séria do Fair Play Financeiro. Ele acredita que, se as regras forem aplicadas com rigor, o futebol brasileiro passará por uma mudança radical, com clubes respeitando limites orçamentários e evitando contratações irresponsáveis. Isso, segundo ele, pode até mesmo levar “muitos clubes grandes” para a segunda divisão, caso suas gestões não se adequem.
O que Palmeiras e Flamengo nos ensinam é que, independentemente do modelo societário (eles ainda são clubes associativos, como Real e Barcelona), a disciplina, o método e um planejamento de longo prazo são os verdadeiros pilares do sucesso. Eles construíram ecossistemas que resistem a tropeços e mudanças, absorvendo erros menores e mantendo a coerência esportiva e financeira.
Enquanto a regra no Brasil ainda for o improviso e a urgência, a tendência é clara: eles continuarão ditando o ritmo, vivendo uma realidade à parte, no topo do futebol nacional e continental.
