Senhoras e senhores, é Alice Drummond, com uma análise aprofundada para o D-Taimes sobre a mais recente reviravolta na Operação Sem Desconto. O que vemos desdobrar-se é muito mais do que uma simples investigação; é um retrato vívido da intrincada teia entre poder político e corporativo, cujas amarras se estendem para espoliar o cidadão comum, o aposentado que dedicou uma vida ao trabalho.
A nova fase da Operação Sem Desconto, deflagrada pela Polícia Federal (PF) e pela Controladoria-Geral da União (CGU), revela o que o presidente da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI), senador Carlos Viana (Podemos-MG), classifica como o desmonte do “núcleo principal de todos os desvios do INSS”. Trata-se de uma quadrilha que, por anos, agiu livremente, implementando descontos ilegais de mensalidades associativas diretamente das aposentadorias e pensões de milhões de brasileiros. Um crime que atinge a base da pirâmide social e abala a confiança nas instituições.
Entre os nomes agora sob os holofotes, destaca-se a prisão do ex-presidente do INSS, Alessandro Stefanutto. Um procurador federal de carreira que, entre 2011 e 2017, esteve à frente da Procuradoria Federal Especializada junto ao INSS e, em 2023, assumiu a presidência da autarquia por indicação de Carlos Lupi, então ministro da Previdência Social. Lupi, é importante lembrar, demitiu-se em meio ao crescente escândalo. Stefanutto foi afastado e exonerado após a primeira fase da operação, em abril. Sua prisão agora sinaliza que as investigações se aprofundam na hierarquia da fraude.
As conexões, como sempre, não param por aí. As investigações da PF e da CGU também miram o escritório de advocacia de Eric Douglas Martins Fidelis, filho do ex-diretor de Benefícios do INSS, André Fidelis. Um montante de R$ 5,1 milhões teria sido recebido por Eric de dirigentes de entidades sob investigação. Isso levanta questões cruciais sobre a ética e a transparência nas relações entre o setor público e o privado.
Mas a trama se adensa. A operação também alcançou figuras de peso político: o ex-ministro do Trabalho e Previdência Social do governo Bolsonaro, José Carlos Oliveira, e os parlamentares Euclydes Pettersen Neto (Republicanos-MG), deputado federal, e Edson Cunha de Araújo (PSS-MA), deputado estadual. Pettersen é investigado por uma suposta venda de avião a uma das entidades associativas fraudulentas, enquanto Araújo é vice-presidente da Confederação Brasileira dos Trabalhadores da Pesca e Aquicultura (CBPA), outra organização sob escrutínio.
O senador Carlos Viana foi enfático ao afirmar que esses não são os únicos parlamentares sob investigação. “Há outros parlamentares que também têm envolvimento e que, no momento certo, de acordo com suas responsabilidades, prestarão depoimentos ao STF”, declarou, indicando que a rede de corrupção é mais vasta e que as apurações continuam em sigilo para não comprometer o processo.
A CPMI, alinhada aos achados da PF e da CGU, categorizou os responsáveis por esse golpe contra os segurados em três escalões. A missão agora, segundo Viana, é desvendar “quem ajudou, quem indicou, quem nomeou e o que receberam para que este esquema pudesse continuar funcionando e de que maneira políticos foram beneficiados nesta história”.
Como repórter e analista, meu compromisso é com a verdade e a contextualização. Esta operação não é apenas um feito policial; é um alerta sobre a fragilidade dos sistemas de proteção social quando permeados pela ganância e pela falta de ética. A cada centavo desviado dos aposentados, a cada conluio entre agentes públicos e privados, a confiança do cidadão é corroída e o tecido social, enfraquecido. O D-Taimes continuará acompanhando de perto para garantir que os fatos sejam não apenas relatados, mas também profundamente analisados, para que o poder seja descomplicado e a justiça, finalmente, prevaleça.
