Sou Alice Drummond, repórter e analista focada nas intersecções entre o poder político e o mundo corporativo para o D-Taimes.
Em um cenário político brasileiro constantemente redefinido por reviravoltas judiciais, a prisão do ex-presidente Jair Bolsonaro em regime fechado, somada à sua inelegibilidade estendida até 2060, catalisa a busca da direita por um novo líder para 2026. A cena se desenha, e no centro das atenções, emerge com força a figura do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), consolidando-se como o nome mais viável para a disputa presidencial.
A condenação de Bolsonaro a 27 anos de prisão por tentativa de golpe não apenas encerra um capítulo de sua carreira política, mas abre um vácuo de liderança na direita que precisa ser preenchido com urgência. A movimentação é intensa nos bastidores, com líderes do Centrão e da direita correndo contra o tempo para construir um projeto político competitivo que enfrente o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Tarcísio de Freitas, com sua proximidade ao ex-presidente e sua capacidade de dialogar com um eleitorado de centro-direita que busca uma alternativa ao lulismo sem necessariamente endossar a cartilha bolsonarista mais radical, surge como o candidato ideal. Ele se tornou o ponto de convergência, angariando apoio de importantes “caciques” nacionais, como o senador Ciro Nogueira (PP), o ex-prefeito de Salvador ACM Neto (União Brasil), o governador de Minas Gerais Romeu Zema (Novo), e figuras influentes como Gilberto Kassab (PSD), Valdemar Costa Neto (PL), Baleia Rossi (MDB) e Marcos Pereira (Republicanos). A estratégia é clara: forjar um grande bloco de centro-direita e evitar candidaturas pulverizadas no primeiro turno, uma lição aprendida em ciclos eleitorais passados.
No entanto, o caminho de Tarcísio não é isento de desafios. A lei exige que ele renuncie ao governo de São Paulo com pouco mais de cinco meses de antecedência às eleições, o que o obriga a calcular cada passo. Oficialmente, ele ainda nega a candidatura, mas suas falas e a intensificação das articulações revelam um movimento estratégico. O governador busca concluir obras importantes em sua gestão antes de um anúncio formal, um aceno de responsabilidade e governabilidade.
O principal nó da trama reside, contudo, no apoio do clã Bolsonaro. Sem a bênção explícita de Jair Bolsonaro, Tarcísio dificilmente avançará. A prisão preventiva do ex-presidente, após o incidente com a tornozeleira eletrônica, cancelou um encontro crucial e agora exige uma nova articulação judicial para que Tarcísio possa discutir o cenário político diretamente com o capitão, desta vez em regime fechado. Além disso, a atuação de figuras como o deputado Eduardo Bolsonaro, com suas declarações polarizadoras e investidas contra as instituições, gera atritos e preocupações entre os aliados, que buscam um nome com menor “toxicidade”. A sombra de um “sobrenome Bolsonaro” na chapa presidencial – seja Flávio, que teve sua imagem arranhada por falhas de articulação, ou Michelle, ventilada como possível vice ou senadora – divide o próprio campo da direita, que busca amplitude e descolamento de pautas mais extremas.
Enquanto a estrela de Tarcísio ascende, a de outros potenciais candidatos de centro-direita, como Ratinho Jr. (PSD), Ronaldo Caiado (União Brasil) e Eduardo Leite (PSD), parece perder brilho, incapazes de construir uma articulação nacional robusta. Tarcísio, por sua vez, tem demonstrado compreender a sensibilidade da situação de Bolsonaro, defendendo enfaticamente um perdão judicial para o ex-presidente e adotando um discurso cada vez mais liberal e “anti-PT”.
Do meu ponto de vista como analista, esta é uma reconfiguração da direita brasileira impulsionada por eventos judiciais sem precedentes. A “derrocada” de Bolsonaro, embora um golpe duro para seus apoiadores, paradoxalmente cria a oportunidade para uma ala mais pragmática e governável da direita ascender. O sucesso de Tarcísio dependerá de sua habilidade em harmonizar as demandas de um eleitorado fiel a Bolsonaro com a necessidade de atrair o centro, tudo isso enquanto o “nó Bolsonaro” ainda precisa ser desatado. A cena política de 2026 promete ser um embate de legados e novas propostas, e a forma como Tarcísio navegará por essas águas definirá o futuro da direita no Brasil.
