O Paradoxo Digital: Bolsonaro Ganha Seguidores Mesmo com Perfis Bloqueados Pela Justiça
Por Alice Drummond, D-Taimes
Em um cenário onde a intersecção entre o poder político e o universo digital se torna cada vez mais intrincada, emerge um fenômeno que desafia a lógica das redes sociais e levanta questões profundas sobre a comunicação política no Brasil. Desde 17 de julho, as contas do ex-presidente Jair Bolsonaro em plataformas como Instagram, X (antigo Twitter), Facebook, YouTube e TikTok estão impedidas de publicar novos conteúdos, uma determinação do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes. A medida veio em decorrência da condenação de Bolsonaro a 27 anos e três meses de prisão por tentativa de golpe de Estado, visando conter sua capacidade de disseminar informações.
A expectativa de muitos, inclusive de parte da oposição, era de uma “morte digital” para o ex-presidente, que sempre utilizou as redes sociais como seu principal e mais eficaz canal de comunicação com sua base de apoiadores. Contudo, os dados recentes revelam uma realidade surpreendente: mesmo silenciado, Bolsonaro não apenas manteve sua audiência, mas a expandiu significativamente. Desde julho, o ex-presidente acumulou mais 500 mil novos seguidores, elevando sua base para impressionantes 68,5 milhões nas plataformas monitoradas. O Instagram liderou esse crescimento, demonstrando a vitalidade de um engajamento que persiste para além da atividade direta do perfil.
O último post de Bolsonaro no Instagram, uma resposta a uma carta de Donald Trump onde ele se diz julgado por um golpe “sem armas”, atingiu a marca de 1,5 milhão de curtidas. Este número é um indicador claro de que, apesar das restrições judiciais, a “memória digital” do ex-presidente é mantida viva por uma rede de interação constante, seja por manifestações de apoio ou por críticas, vindas diretamente dos internautas.
A antropóloga Letícia Cesarino, da Universidade Federal de Santa Catarina, uma especialista em análise de redes sociais e comportamento político digital, expressa surpresa com o fenômeno. “A lógica é que se a pessoa não tiver publicado, ele vai sumir, pois não está engajando e seus posts não aparecem”, observa Cesarino, destacando a quebra do padrão esperado. Para a antropóloga, a explicação para esse crescimento paradoxal pode residir na ação orquestrada de aliados, familiares e admiradores do ex-presidente, que podem estar repostando, compartilhando e, assim, mantendo a visibilidade e o debate em torno de Bolsonaro. A possibilidade do uso de “robôs” para impulsionar o engajamento também é levantada, um aspecto que o D-Taimes tem acompanhado de perto nas dinâmicas de desinformação e polarização.
Este cenário complexo nos força a refletir sobre a verdadeira natureza do poder de influência na era digital. As plataformas de redes sociais, que se tornaram arenas cruciais para o debate público e a formação de opinião, mostram-se campos férteis para a manutenção de narrativas, mesmo diante de impedimentos formais. A capacidade de um líder político, mesmo sob sanção judicial, de continuar mobilizando e expandindo sua base digital, ressalta a resiliência de certas correntes políticas e a engenhosidade das estratégias de comunicação em um ambiente em constante mutação.
Para o cidadão comum, este caso sublinha a importância de um olhar crítico sobre o consumo de informação e as fontes de engajamento online. A “morte digital” prometida não se concretizou, e o poder de mobilização se manifesta de novas formas, desafiando as ferramentas de controle e regulamentação. O D-Taimes continuará investigando essas dinâmicas, desvendando as camadas do poder digital e seu impacto na nossa democracia.
