Como Alice Drummond, repórter e analista do D-Taimes, mergulho nas entranhas da política nacional para desvendar as complexas manobras que antecedem a corrida presidencial de 2026. O cenário atual revela um desafio considerável para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva: a intrincada formação de alianças sólidas nos três estados mais estratégicos do país – São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro – que, juntos, compõem o que chamo de “Triângulo das Bermudas Eleitoral” do Planalto. A dificuldade em consolidar palanques fortes nessas regiões pode ser decisiva para o futuro político da nação.
São Paulo: O Centro da Disputa e os Jogos de Xadrez
São Paulo, o maior colégio eleitoral, apresenta-se como um verdadeiro tabuleiro de xadrez político. A busca de Lula por um candidato de peso para o governo estadual ou para o Senado esbarra em figuras que preferem se manter afastadas da linha de frente. Fernando Haddad, Ministro da Fazenda, embora cotado para disputar o Senado ou o Palácio dos Bandeirantes, resiste à ideia. A cúpula do PT, no entanto, persiste em pressioná-lo, enxergando nele o nome ideal para propagar a pauta econômica do governo, como a isenção do Imposto de Renda para rendimentos de até R$ 5 mil. Haddad, contudo, argumenta que sua influência pode ser exercida sem a necessidade de uma candidatura.
O vice-presidente Geraldo Alckmin, figura que já governou São Paulo por quatro mandatos, emerge como um parceiro valioso. Sua permanência na chapa presidencial ou uma eventual candidatura ao Senado são possibilidades em aberto, embora ele desvie dos questionamentos com uma pitada de humor, afirmando que pretende ser presidente do Santos Futebol Clube. Sua atuação nas negociações para reduzir tarifas impostas por Donald Trump fortaleceu seu prestígio, mas o dilema da aliança partidária, especialmente com MDB e PSD, pode reconfigurar os arranjos.
A ministra do Planejamento, Simone Tebet (MDB), também entra na equação, com o PT almejando sua candidatura ao Senado por São Paulo. Contudo, essa movimentação exigiria a mudança de seu domicílio eleitoral e de partido, uma vez que o MDB local não planeja se alinhar formalmente com o PT. A saída de Tebet do ministério, caso se concretize, abriria caminho para Bruno Moretti na Casa Civil.
O “fator Tarcísio” é um elemento crucial. Se o atual governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, decidir concorrer à presidência, a disputa pelo governo estadual para o campo lulista pode se tornar mais acessível. No entanto, se Tarcísio buscar a reeleição, sua recondução é vista como “bastante provável” por petistas, que então considerariam apoiar Márcio França (PSB).
Minas Gerais: A Balança Histórica
Minas Gerais, historicamente um termômetro eleitoral que costuma ditar o vencedor da Presidência, apresenta um quadro ainda mais complexo para o presidente Lula. A insistência para que o senador Rodrigo Pacheco (PSD-MG) concorra ao governo mineiro encontra resistência. Pacheco, com aspirações a uma vaga no Supremo Tribunal Federal (STF), vê sua posição no PSD fragilizada pela articulação de seu partido em torno do vice-governador Mateus Simões para suceder Romeu Zema (Novo). Zema, por sua vez, flerta com uma candidatura presidencial ou ao Senado, adicionando mais uma camada de incerteza.
O PT, em busca de alternativas, retoma o diálogo com Alexandre Kalil (PDT), ex-prefeito de Belo Horizonte que já rompeu com Lula no passado. A ministra de Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann, sinaliza uma tentativa de “reconstruir a relação” com o PDT, antigo aliado. Contudo, uma ala petista defende a candidatura própria da prefeita de Contagem, Marília Campos, demonstrando as tensões internas. O líder do governo na Câmara, José Guimarães, enfatiza a urgência de superar divergências locais para fortalecer os palanques de Lula e, consequentemente, a governabilidade. No cenário bolsonarista, o senador Cleitinho (Republicanos) desponta nas pesquisas, mas não confirmou candidatura, enquanto Aécio Neves (PSDB) avalia disputar o Senado.
Rio de Janeiro: Entre Dois Fogos
No Rio de Janeiro, a situação é marcada pela ambiguidade do prefeito Eduardo Paes (PSD). Favorito na disputa pelo governo do estado, ele acena tanto para Lula quanto para Bolsonaro, chegando a declarar “amor ao Estado” ao PL, mas mantendo a independência em relação a “fulano ou beltrano”. A estratégia de Paes é montar uma frente ampla, buscando apoio em diversos segmentos, incluindo o evangélico, o que, até o momento, não abre espaço para o PT em sua chapa.
A postura de Paes gera críticas do campo bolsonarista, como do líder do PL na Câmara, Sóstenes Cavalcante, que questiona a capacidade de Paes vencer sem um alinhamento claro à direita. O senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) rechaça uma aliança com o prefeito. Pelo lado petista, a deputada Benedita da Silva (RJ) é o nome cogitado para o Senado, enfrentando a articulação do prefeito de Maricá, Washington Quaquá, que tenta impulsionar Neguinho da Beija Flor.
O atual governador Cláudio Castro (PL), sob escrutínio do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) por abuso de poder político e econômico, aposta em sua recente operação policial contra o Comando Vermelho para reverter a situação e já ensaia um discurso para uma possível candidatura ao Senado em 2026. A iminente prisão de Jair Bolsonaro adiciona mais uma camada de incerteza ao campo da direita, abrindo espaço para novas configurações na disputa presidencial.
O Compromisso da Governança
A eleição de 2026, como aponta o cientista político Antônio Lavareda, será decidida nos números de São Paulo e, igualmente crucial, em Minas Gerais. A ausência de um palanque forte nesses estados não é apenas um revés regional, mas um fator que compromete a própria governabilidade. Como analista, vejo que a capacidade de Lula em articular e pacificar as diversas forças políticas regionais será o grande teste para o seu projeto de reeleição e, mais amplamente, para a estabilidade política do país. As próximas movimentações nos “estados-chave” serão cruciais para definir os rumos da política brasileira.
