Por Alice Drummond, D-Taimes
Brasília e os grandes centros financeiros, muitas vezes distantes da realidade cotidiana do cidadão, parecem ignorar um sinal de alerta cada vez mais claro: o eleitor independente está insatisfeito. Uma nova pesquisa Quaest, divulgada nesta quinta-feira (13), joga luz sobre essa dinâmica, revelando um aumento expressivo na rejeição ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a persistência de altos índices de desaprovação para o ex-presidente Jair Bolsonaro.
Os dados são contundentes e merecem uma análise aprofundada. A rejeição a Lula entre os eleitores que se declaram independentes saltou de 54% em outubro para alarmantes 64% em novembro. Um crescimento de dez pontos percentuais neste segmento crucial do eleitorado não é apenas uma oscilação estatística; é um grito de descontentamento que não pode ser ignorado. Esse grupo, que não se alinha automaticamente a partidos ou ideologias, é frequentemente o fiel da balança em pleitos eleitorais e um termômetro da percepção pública sobre a direção do país.
O que estaria por trás dessa escalada na desaprovação do atual governo? Minha análise, no D-Taimes, busca entender como as decisões tomadas em gabinetes refrigerados ecoam no prato de comida do brasileiro, na conta de luz, nas filas dos serviços públicos. O eleitor independente, muitas vezes pragmático, avalia a governança pela capacidade de resolver problemas concretos. A inflação, o poder de compra, a segurança e a eficácia das políticas públicas são as lentes através das quais ele enxerga o poder. O aumento da rejeição sugere que a narrativa governista pode não estar se conectando com as expectativas e as angústias desse grupo.
Por outro lado, Jair Bolsonaro, mesmo fora do cargo, continua a enfrentar uma alta rejeição, atingindo 73% entre os independentes (uma leve queda de 77% em outubro). No cenário geral, 60% do eleitorado rejeita o ex-presidente. Enquanto sua base permanece sólida, esses números indicam que seu potencial de expansão para além do núcleo duro de apoiadores é limitado. A polarização, longe de diminuir, parece ter consolidado patamares de rejeição para ambas as principais figuras políticas, criando um vácuo de representatividade para aqueles que buscam um caminho alternativo.
Essa conjuntura coloca os dois principais polos da política brasileira em uma encruzilhada. Para Lula, o desafio é reconquistar a confiança dos independentes, demonstrando resultados e uma comunicação mais alinhada com as demandas da população. Para Bolsonaro, o patamar elevado de rejeição impõe a necessidade de repensar estratégias e discursos, caso almeje uma retomada efetiva de sua influência.
Os números da Quaest (pesquisa encomendada pela Genial Investimentos, realizada entre 6 e 9 de novembro, com 2.004 pessoas) são mais do que meros dígitos; são um retrato da instabilidade e da busca por respostas em um Brasil complexo. A análise crítica destes dados é essencial para “descomplicar o poder” e compreender as verdadeiras dinâmicas econômicas e os desafios sociais que moldam o nosso país. O eleitor independente, silenciosamente, está redefinindo o jogo político, e seu descontentamento é um sinal que os estrategistas de Brasília fariam bem em observar com a máxima atenção.
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