Alex Braga aqui, no comando da análise que vai fundo no “esporte bretão”! Hoje, vamos desvendar uma das perguntas mais cruciais e complexas do nosso futebol: quanto custa, de fato, transformar um sonho de menino em um craque de projeção mundial? E, mais importante, como esse funil de talentos se sustenta economicamente no cenário atual, com a ascensão das SAFs e a busca incessante por rentabilidade.
A paixão pelo futebol no Brasil é inegável, mas a realidade da formação de atletas é um labirinto de investimentos que começa muito antes do brilho dos holofotes. Não se trata apenas de uma chuteira nova ou uma bola no pé. Estamos falando de um ecossistema complexo que engloba tecnologia de ponta, viagens, alimentação balanceada, alojamento, preparação física e psicológica rigorosa, e até softwares avançados de análise de desempenho.
Pegue o exemplo do Sport Club de Recife. Segundo Carlos Brazil, gerente de futebol do clube e presidente do Movimento de Clubes Formadores do Futebol Brasileiro (MCFFB), o investimento médio anual por atleta chega a R$ 7 mil. Multiplique isso por uma base de 160 jovens talentos, e temos mais de R$ 1,1 milhão anuais apenas para manter a estrutura de alojamento, educação, nutrição, transporte e uma equipe multidisciplinar. É um custo que exige gestão e visão de longo prazo.
Mas a grande revelação da reportagem da Exame, e que pouca gente compreende, é que a base de um clube se paga, primeiramente, pela capacidade de compor o elenco profissional com seus próprios atletas, e não primordialmente pela venda. Ao promover jogadores da base, o clube reduz significativamente a necessidade de buscar reforços caros no mercado, economizando milhões em salários e transferências. “Se você colocar 20% do elenco profissional com atletas da base, a economia gerada em salários é suficiente para pagar a base e sobrar bastante dinheiro”, explica Brazil.
Ainda assim, os custos não param por aí. As taxas de registro e transferência, que podem superar R$ 10 mil por jogador, são despesas adicionais na jornada rumo ao profissionalismo.
O Olhar das Agências: A Busca Meticulosa pelo Próximo Fenômeno
Grandes agências, como a Roc Nation Sports – braço esportivo do império de Jay-Z, que gerencia nomes como Endrick e Vini Jr. – têm um processo de avaliação meticuloso. Thiago Freitas, Diretor de Operações no Brasil, revela que a análise vai além do talento bruto. Comportamento, inteligência, genética, preparo físico e desempenho em ações ofensivas e defensivas são criteriosamente avaliados. Os jovens são comparados com os melhores de suas gerações, e só então são feitas projeções de salários, minutos em campo e potencial de valorização.
Mas o caminho é cheio de armadilhas. Lesões graves, problemas comportamentais, desafios na maturação física e até erros de avaliação são riscos constantes que podem mudar o destino de uma carreira promissora. Claudio Fiorito, presidente da P&P Sport Management Brasil, reforça a ideia de que não há uma “fórmula mágica”: “Cada atleta tem a sua necessidade e o seu tempo de evolução e margem de crescimento”, pontua. O primeiro investimento, para ele, é no “processo educacional” do atleta, construindo pilares como disciplina, autoconsciência e preparo emocional.
Brasil: O Berço Inesgotável de Talentos
Apesar dos desafios, o Brasil, ao lado de França e Espanha, continua sendo um dos maiores fornecedores de talentos para o futebol mundial, com a Inglaterra se destacando como principal importador. A força da cultura de formação de atletas no país, segundo Fiorito, é um fator determinante, que ele acredita ser “sempre fortalecido por um processo administrativo e por um processo de profissionalização do futebol brasileiro”.
No entanto, o mundo digital impõe novos desafios. A exposição precoce nas redes sociais, muitas vezes “irrelevante e pouco qualificada”, não se traduz automaticamente em valor de mercado ou em atenção de grandes marcas. As agências precisam orientar os jovens a construir uma imagem sustentável, pois “são ainda poucos os atletas vistos como atrativos pelas grandes marcas”.
SAFs: A Revolução Financeira Necessária?
O setor esportivo movimentou R$ 183,4 bilhões no Brasil em 2023, superando a área cultural em contribuição para o PIB. Com 23,5% dos torcedores brasileiros dispostos a investir em ações de clubes, o potencial de mercado é gigantesco.
É nesse cenário que a Sociedade Anônima do Futebol (SAF) surge como uma promessa de transformação.
A SAF propõe uma mudança radical: clubes de futebol se tornam empresas independentes, com governança clara, transparência contábil e abertura para investimentos privados. A ideia é abandonar a lógica associativa, com seus ciclos curtos e decisões políticas, em favor de metas e previsibilidade financeira. Na teoria, isso abriria caminho para projetos de base mais sólidos, com centros de treinamento de ponta, captação estruturada e equipes multidisciplinares bem remuneradas, focadas no longo prazo.
Contudo, a transição é lenta e a prática mostra que a SAF, por si só, não é uma bala de prata. Muitos clubes ainda carecem de incentivos para pensar além da próxima temporada, focados em títulos de curto prazo. A “revolução na remuneração dos profissionais de base” e planos sequenciais são, para Thiago Freitas, o “início de conversa” para que o Brasil mantenha sua hegemonia como pentacampeão mundial e principal exportador de talentos.
O Brasil respira futebol e, como Alex Braga, acredito que a história por trás de cada jogo, cada gol, cada craque que emerge das nossas periferias e centros de treinamento, é o que realmente nos move. Precisamos garantir que o futuro desses talentos seja tão brilhante quanto o seu potencial.
Data de Publicação: 25 de novembro de 2025
