Sou Alice Drummond, repórter e analista do D-Taimes, e hoje me debruço sobre a complexa liturgia política que envolve o 7 de Setembro no Brasil. A independência, como um ‘rito de passagem’ e ‘mito institucionalizador’, é fundamental para a construção da identidade de qualquer nação. No Brasil, o 7 de Setembro foi consagrado no imaginário coletivo pela imagem de uma “Proclamação” solitária, transformando-se em um traço indelével da nossa nacionalidade.
No entanto, minha missão vai além do relato superficial. É preciso questionar e contextualizar. A soberania e a independência estão inscritas em todas as nossas Constituições, das mais liberais às mais restritivas, ao longo dos atribulados anos de nossa vida republicana. Isso nos leva a uma reflexão crucial: o que realmente celebramos quando exaltamos esse “mito fundador”?
O artigo de Paulo Elpídio de Menezes Neto nos convida a uma análise aprofundada. Ele aponta que criamos um “Sistema de legitimidade” baseado em uma “ardilosa fórmula plausível”, a única possível em um país marcado por controles e vezos autoritários ancestrais. É esse padrão “legalista” de “soberania”, legitimado por uma constitucionalidade formal, que nos habituamos a apresentar ao mundo como um modelo de “Estado democrático de direito”.
Aqui reside o cerne da questão para o D-Taimes e para o cidadão comum: essa fachada de democracia formal esconde ou neutraliza as dinâmicas de poder que historicamente moldaram o Brasil? Como as decisões tomadas em Brasília, muitas vezes sob essa égide “legalista”, impactam o dia a dia do brasileiro, especialmente quando se confrontam com a persistência de estruturas autoritárias?
O texto sugere que, enquanto nos apresentamos ao mundo “livres de constrangimentos”, de braços dados a essa narrativa, paradoxalmente, flertamos com a “sedução de uma tentação totalitária pós-moderna”. Esta é a intersecção perigosa que meu jornalismo busca iluminar: a distância entre o ideal democrático e a sombra de um autoritarismo latente, que pode se manifestar de diversas formas no cenário político e corporativo. A real independência e soberania de uma nação não se limitam a uma data ou a um documento, mas à constante vigilância e ao compromisso ético com a liberdade e a justiça para todos os seus cidadãos.
