Moraes Avança Contra Salles: Interrogatório no Dossiê da Madeira Ilegal Expõe Mecanismos de Poder na Amazônia
Por Alice Drummond, D-Taimes
Brasília – O Supremo Tribunal Federal (STF), sob a batuta do ministro Alexandre de Moraes, deu um passo decisivo na Operação Akuanduba ao agendar para o dia 9 de dezembro o interrogatório do ex-ministro do Meio Ambiente Ricardo Salles. Salles, figura central em um controverso período da gestão ambiental brasileira, será questionado sobre seu suposto envolvimento em um esquema robusto de facilitação do contrabando de madeira extraída ilegalmente da Amazônia, destinada ao mercado internacional. Além do ex-ministro, outras 20 pessoas serão ouvidas, incluindo servidores e indivíduos-chave na trama.
A investigação, conduzida pela Polícia Federal (PF) e pelo Ministério Público Federal (MPF), pinta um quadro preocupante: uma organização criminosa que, segundo as apurações, operava de dentro dos próprios órgãos do Ministério do Meio Ambiente durante a gestão de Jair Bolsonaro. A acusação é grave e multifacetada, abrangendo corrupção passiva, prevaricação, advocacia administrativa, contrabando e formação de organização criminosa. São crimes que, se comprovados, demonstram a corrosão do poder público em favor de interesses privados e ilícitos.
A Operação Akuanduba, que agora ganha novos capítulos com as oitivas marcadas, não surgiu do vácuo. Ela teve início a partir de um alerta de autoridades do governo dos Estados Unidos, que questionaram a origem de cargas de madeira exportadas ilegalmente do Brasil. Este detalhe sublinha não apenas a gravidade do problema interno, mas também a repercussão internacional das políticas (ou da ausência delas) adotadas no país.
As audiências prometem ser intensas, com a oitiva das testemunhas de acusação marcada para 1º de dezembro, seguida pelas testemunhas de defesa, que se estenderão até o dia 5 do mesmo mês. É um calendário que reflete a complexidade e a abrangência do caso.
Para o D-Taimes, este episódio vai além da mera crônica policial. Ele nos força a uma análise crítica sobre as intersecções perigosas entre o poder político e as corporações – ou, neste caso, o crime organizado disfarçado de atividade econômica. Como as decisões tomadas nos gabinetes de Brasília podem não apenas impactar a política de proteção ambiental, mas também ser cooptadas para desviar recursos naturais e minar a integridade das instituições?
A suposta atuação do esquema no coração da pasta ambiental, responsável pela salvaguarda de um dos maiores patrimônios do Brasil, a Amazônia, expõe a fragilidade da governança e a urgência de mecanismos mais robustos de transparência e controle. O cidadão comum, que vê a Amazônia ser devastada e a imagem do país arranhada no exterior, é o principal afetado por essa dinâmica. Nossa missão é, e continuará sendo, lançar luz sobre esses mecanismos, questionar e aprofundar, para que a verdade prevaleça e o poder seja, de fato, descomplicado e responsabilizado.
