Olá, leitores do D-Taimes. Aqui é Alice Drummond, e hoje mergulhamos nas profundezas das movimentações políticas em Brasília, onde as promessas de campanha se entrelaçam com as urgências sociais e as estratégias para o poder.
Lula Reconsidera Ministério da Segurança Pública: Tática Eleitoral ou Resposta à Crise?
A dois anos das eleições presidenciais de 2026, um tema que parecia ter ficado na gaveta do primeiro ano do terceiro mandato de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) volta à tona: a criação de um Ministério da Segurança Pública. O que antes era uma promessa de campanha de 2022, rapidamente engavetada, agora ressurge como um “caminho natural” para uma possível reeleição, segundo apurações nos bastidores do Palácio do Planalto e do próprio Partido dos Trabalhadores.
A resistência inicial dentro do PT para desmembrar o Ministério da Justiça e Segurança Pública era multifacetada. Por um lado, havia o receio de diluir o poder da então pasta comandada por Flávio Dino. Por outro, a preocupação de que um ministério específico para a segurança colocaria a União no centro de uma responsabilidade historicamente atribuída aos estados, expondo o presidente a críticas diretas em um tema tão sensível e complexo.
No entanto, o cenário atual impõe uma nova dinâmica. A recente megaoperação nos complexos do Alemão e da Penha, no Rio de Janeiro, que resultou em 121 mortes, incluindo a de quatro policiais, acendeu um alerta no governo. A violência urbana, o avanço do crime organizado e a atuação de facções criminosas como o Comando Vermelho exigem uma resposta federal mais robusta e coordenada.
Defensores da divisão argumentam que uma pasta exclusiva para a segurança pública permitiria uma atuação mais focada e eficiente do governo federal no combate ao crime. Além disso, a Proposta de Emenda Constitucional (PEC) da Segurança Pública, que dá status constitucional ao Sistema Único de Segurança Pública (SUSP) e busca maior articulação entre União e estados, poderia, por sua própria natureza, exigir um ministério dedicado para coordenar essa integração.
O Planalto reconhece que a segurança pública será um dos temas centrais das eleições de 2026, uma área onde a direita historicamente encontra maior eco junto ao eleitorado. Para tentar reverter essa narrativa e apresentar uma resposta governamental, a aposta não se limita à eventual criação do ministério, mas também na aprovação da PEC da Segurança Pública e do Projeto de Lei Antifacção, encaminhado ao Congresso.
A instalação da CPI do Crime Organizado, por sua vez, é vista como um risco político significativo à imagem de Lula, um campo fértil para a oposição intensificar as críticas e buscar desgastar o governo. A guerra de narrativas já começou, e o tema da segurança se configura como um dos principais palcos dessa disputa.
A questão central que se impõe, sob a análise do D-Taimes, é se essa movimentação de recriar o Ministério da Segurança Pública reflete uma genuína reavaliação estratégica para lidar com a crescente crise de segurança no país, ou se é, em essência, uma jogada eleitoral para neutralizar a oposição em um terreno minado. O impacto real no dia a dia do cidadão comum, que anseia por mais segurança, dependerá não apenas da estrutura ministerial, mas da efetividade das políticas implementadas e da coordenação federativa que, historicamente, se mostra um desafio no Brasil.
O que se observa é uma dança política complexa, onde a segurança pública, mais do que uma questão de Estado, é também um componente crucial na batalha pelo poder em 2026.
