Em meio às nuances do tabuleiro político brasileiro, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva confirmou a indicação de Jorge Rodrigo Araújo Messias, atual Advogado-Geral da União, para ocupar uma cadeira no Supremo Tribunal Federal (STF). Aos 45 anos, Messias ascende a um dos postos mais cobiçados da República, em um movimento que solidifica a presença de um dos quadros jurídicos mais próximos do chefe do Executivo na mais alta corte do país.
A trajetória de Jorge Messias não é novidade nos corredores do poder. Natural de Recife, formado em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e com mestrado e doutorado pela Universidade de Brasília (UnB), ele ingressou na Advocacia-Geral da União em 2007. No entanto, foi em 2016 que seu nome ganhou projeção nacional, ironicamentem por meio de um epíteto: “Bessias”.
Durante a turbulenta crise política daquele ano, em meio à Operação Lava Jato, um telefonema da então presidente Dilma Rousseff para Lula, divulgado ilegalmente pelo ex-juiz Sergio Moro, se tornaria icônico. Dilma informava a Lula que enviaria, “pelo Bessias”, o termo de posse para que ele assumisse o Ministério da Casa Civil em “caso de necessidade”. A voz anasalada da presidente e a transcrição informal imortalizaram “Messias” como “Bessias” na memória coletiva. Mais tarde, ele esclareceria que sua função era meramente administrativa e que a divulgação do áudio, “cortado e fora de contexto”, visava desestabilizar o governo.
Com a vitória de Lula em 2022, Messias foi peça-chave no grupo jurídico da transição, estreitando ainda mais os laços com o presidente. Em dezembro do mesmo ano, foi o mais votado para chefiar a AGU, onde desempenhou um papel fundamental na defesa dos interesses do governo, colaborando diretamente com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, em questões fiscais de grande impacto. Sua postura firme, como ao classificar a pejotização como uma “cupinização dos direitos trabalhistas”, ressoa nos debates jurídicos e destaca sua visão crítica sobre as relações de trabalho.
A indicação de Messias, evangélico e membro da Igreja Batista, casado e pai de dois filhos, é vista pelo governo como um aceno estratégico ao eleitorado evangélico, segmento onde Lula enfrenta considerável resistência. Apesar de ter sido vaiado ao mencionar o presidente durante a Marcha para Jesus em 2023, Messias defende que é preciso “devolver Jesus ao púlpito, não ao palanque”, demonstrando uma clara delimitação entre fé e política partidária.
Apesar da preferência de Lula por Messias desde a abertura da vaga, outros nomes foram ventilados, como o do senador Rodrigo Pacheco (PSD-MG), visto por muitos como um articulador político confiável e com forte apoio do presidente do Senado, Davi Alcolumbre. Contudo, Lula manteve sua escolha, indicando a Pacheco a possibilidade de uma candidatura ao governo de Minas Gerais em 2026.
Agora, o caminho de Jorge Messias até a toga do STF passa pela fase mais crucial: a sabatina na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado, seguida por uma votação secreta no Plenário. Para ser aprovado, ele precisará conquistar pelo menos 41 votos, um desafio considerável diante da fragilidade da base governista no Senado, especialmente após a tensa recondução de Paulo Gonet à Procuradoria-Geral da República.
Se aprovado, Messias passará a integrar a Corte por até 30 anos, até a aposentadoria compulsória aos 75 anos. Ele herdará um volume significativo de processos de seu antecessor, Luís Roberto Barroso, incluindo ações estruturais de grande relevância como a ADPF 347 (relacionada ao sistema prisional), a ADI 7222 (piso da enfermagem) e processos remanescentes da Operação Lava Jato. A chegada de Messias ao STF, portanto, promete repercutir não apenas na composição da corte, mas também nas dinâmicas políticas e jurídicas do país.
