Bem-vindo ao meu espaço, amantes do esporte e da paixão que ele nos inspira! Aqui é Alex Braga, e hoje trago uma análise fundamental que transcende as quatro linhas e toca o cerne do que o esporte deve representar: união, respeito e cidadania. Em um país que respira futebol, é imperativo que nossos estádios e a cultura esportiva abracem a diversidade em sua plenitude, combatendo qualquer forma de preconceito.
Futebol sem Ódio: Um Grito por Inclusão nos Estádios Paulistas
No último dia 6 de novembro, a Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo (Alesp) foi palco de uma audiência pública histórica: “Contra a LGBTfobia no Futebol”. Promovida pelo deputado estadual Guilherme Cortez, presidente da Frente Parlamentar em Defesa dos Direitos da População LGBTI+ da Alesp, em parceria com o vibrante coletivo de torcidas Canarinhos LGBT+, o evento reuniu a OAB SP, representantes do poder público, da advocacia, do esporte e, claro, das torcidas organizadas que hoje levantam a bandeira da diversidade.
Transmitida ao vivo, a audiência não foi apenas um debate, mas um manifesto em busca de medidas concretas para erradicar a LGBTfobia do nosso futebol. O objetivo é claro: articular políticas públicas, desenvolver protocolos institucionais e intensificar campanhas de conscientização para transformar o esporte.
O deputado Guilherme Cortez, em sua abertura, foi enfático ao sublinhar a contradição de termos um futebol tão culturalmente rico que, ainda assim, se mantém, muitas vezes, hostil e excludente para pessoas LGBT+ e mulheres. “Nosso objetivo é pensar em políticas públicas e medidas que garantam respeito, acolhimento e inclusão para todas as pessoas que desejam jogar ou torcer”, ressaltou Cortez, lembrando que o campo deve ser um espaço de convivência democrática, e não de reprodução de preconceitos.
A mesa de debate foi robusta, contando com nomes de peso como Victor Henrique Grampa, presidente da Comissão de Diversidade Sexual e de Gênero da OAB SP, Kim Saito, diretora executiva de Futebol Feminino da FPF, Mariana Chamelette, vice-presidente do Tribunal de Justiça Desportiva do Estado de São Paulo (TJD-SP), Raquel Lima, presidente do Instituto Brasileiro de Direito Desportivo (IBDD), e os cofundadores da Canarinhos LGBT+, Yuri Senna e Onã Rudá. A presença de representantes de torcidas inclusivas como Palmeiras Livre, Santos Pride e Tricolor LGBT (com William De Lucca, Renato Chagas Souza/Susana Hernandes e Brunna Nascimento dos Santos, respectivamente) demonstrou a força e a capilaridade dessa luta.
Instituições e Torcidas Juntas por um Novo Campo
A Federação Paulista de Futebol (FPF), através de Kim Saito, destacou o “Tratado pela Diversidade e Contra a Intolerância”, um documento que converte regulamentos técnicos em políticas de acolhimento, capacitando árbitros e equipes para identificar e agir diante da discriminação. A mensagem é clara: o futebol precisa ir além da regra e realmente acolher.
Dr. Victor Henrique Grampa, da OAB SP, reforçou a interdependência entre Direito e esporte, salientando que o futebol, historicamente um território masculino e heteronormativo, tem o poder de ser um grande instrumento de reconstrução social, promovendo humanidade e igualdade. A OAB SP, inclusive, apresentou o projeto “Elas Jogam Junto”, focado em estádios seguros e no combate à violência contra a mulher no esporte, mostrando a amplitude da pauta.
Os relatos dos representantes das torcidas foram um soco no estômago da intolerância. William De Lucca (Palmeiras Livre) expôs as ameaças sofridas desde 2013, clamando por punições esportivas duras, como a perda de mando de campo e pontos, para clubes que se omitem diante de práticas discriminatórias. Yuri Senna (Canarinhos LGBT+) celebrou a transformação das arquibancadas em espaços de pertencimento e visibilidade, enquanto Onã Rudá afirmou que a inclusão LGBT+ é uma “afirmação da própria brasilidade”. Renato Chagas Souza (Santos Pride), na pele de Susana Hernandes, criticou a naturalização do preconceito nos estádios, considerados por ele o “último refúgio do macho alfa”. Brunna Nascimento (Tricolor LGBT) lembrou a invisibilidade das pessoas trans e travestis no esporte, e fez uma observação poderosa: “Quem perde com a discriminação não é apenas a pessoa LGBT, é o próprio futebol”.
A audiência culminou com o anúncio de um projeto de lei para instituir o Dia Estadual de Combate à LGBTfobia no Futebol, a ser celebrado em 13 de novembro, data de fundação da Canarinhos LGBT+. Como bem disse o deputado Cortez, um dia no calendário não resolve o problema, mas reconhecer sua existência é o primeiro e mais importante passo para combatê-lo.
O compromisso da advocacia paulista e de todas as entidades envolvidas é com a construção de um futebol onde a emoção seja guiada pelo respeito, transformando comportamentos e consolidando um pacto pela diversidade. Que a paixão pelo esporte seja sempre um elo que nos conecta, jamais um muro que nos separa.
Alex Braga
Analista Esportivo.
