Bem-vindos ao meu espaço! Alex Braga por aqui, e hoje vamos mergulhar em uma história onde o esporte, mais uma vez, transcende as quatro linhas e se enreda com a geopolítica. Desta vez, o palco é o futebol feminino, e a protagonista, a Coreia do Norte.
A imagem de Kim Jong-un, o líder supremo da nação ermitã, raramente é associada a celebrações esportivas descontraídas. No entanto, o recente brilho das seleções norte-coreanas de futebol feminino, que conquistaram nada menos que três títulos mundiais em pouco mais de um ano (dois Sub-17 e um Sub-20), se tornou um ativo valiosíssimo para a máquina de propaganda do regime. É o esporte bretão servindo a um propósito que vai muito além do placar.
A mais recente façanha veio do Marrocos, onde a equipe Sub-17 esmagou a Holanda por 3 a 0 na final, garantindo seu segundo Mundial consecutivo na categoria – o quarto no total! Uma campanha impecável, com 25 gols marcados e apenas três sofridos em sete jogos. Nossas meninas do Brasil, infelizmente, sentiram essa força e foram superadas por 2 a 0 nas semifinais.
Essa hegemonia juvenil, que se soma ao título mundial feminino Sub-20 de setembro de 2024, não passou despercebida em Pyongyang. A imprensa estatal, como o jornal Rondong Sinmun e a agência KCNA, bradou que a “façanha da equipe trouxe alegria à nossa amada pátria”, com as jogadoras “percorrendo o gramado com a dignificada bandeira de nossa república”. Para um país que frequentemente estampa manchetes por seus testes de mísseis balísticos, o sucesso esportivo é uma forma de reivindicar a solidez de seu sistema político. Não é à toa que a vitória foi vista como “grande estímulo e inspiração para todo o povo” em vista do IX Congresso do Partido, um evento político crucial.
O analista Hong Min, do Instituto Coreano para a Unificação Nacional, em Seul, detalha essa estratégia: “Eles vão querer usar isso para projetar uma imagem de que seus fundamentos sociais e culturais são fortes e dinâmicos”. E o segredo por trás dessa performance? Um investimento estatal maciço e precoce. Crianças com talento são identificadas em tenra idade e submetidas a “regimes de treinamento altamente disciplinados, sistemáticos e profissionalizados”, segundo Lee Jung-woo, professor de Política no Esporte da Universidade de Edimburgo. Uma abordagem que contrasta com a visão mais lúdica do esporte juvenil no Ocidente, onde “a diversão” é mais enfatizada.
Curiosamente, o brilho do futebol feminino ofusca a realidade da seleção masculina, que amarga a 120ª posição no ranking da Fifa e não vê uma Copa do Mundo desde 2010. Já a seleção feminina principal, a 10ª do mundo, se prepara como uma das favoritas para a Copa da Ásia do próximo ano.
É uma dicotomia fascinante: o sucesso esmagador em um esporte global, usado como peça central de uma narrativa política em um país isolado. Os gols dessas jovens atletas valem muito mais do que pontos em uma tabela; eles são a moeda de troca em um intrincado jogo de poder e imagem internacional. E essa é a história que o esporte, em sua essência, continua a nos contar, dentro e fora dos campos.
