Bem-vindo ao meu espaço, torcedor e leitor! Sou Alex Braga, e hoje o papo vai além das quatro linhas. A competição ferve, e não apenas nos gramados. Uma declaração do técnico Ramón Díaz, do Internacional, pós-jogo contra o Bahia, jogou luz sobre um debate que precisa ser constante no esporte: o machismo.
No último sábado, após um empate eletrizante por 2 a 2 contra o Bahia no Beira-Rio, pela 33ª rodada do Campeonato Brasileiro, a entrevista coletiva de Ramón Díaz tomou um rumo inesperado. Insatisfeito com a anulação de um gol de Carbonero pelo VAR, o treinador argentino disparou: “O futebol é para homens, não é para meninas, é para homens.” Uma frase que ecoou e, infelizmente, não é novidade em seu histórico.
A indignação de Díaz se deu em um contexto de muita pressão. O gol de Carbonero, inicialmente validado em campo, foi anulado após revisão do VAR por uma falta na origem da jogada. O Internacional, que segue próximo da zona de rebaixamento, viu o Bahia buscar o empate nos acréscimos, aumentando a tensão e a frustração da equipe. Contudo, a escolha das palavras do técnico ultrapassou os limites da crítica à arbitragem.
Lembro-me bem que, em sua passagem pelo Vasco, Ramón Díaz já havia se envolvido em uma polêmica semelhante. Na ocasião, após uma derrota para o Bragantino, ele criticou uma decisão de VAR, afirmando que “o VAR era decidido por uma mulher” (a árbitra Daiane Muniz), e novamente proferiu que “o futebol é diferente, principalmente de que o VAR seja decidido por uma mulher”. Curiosamente, 30 minutos depois, ele procurou a imprensa para dizer que foi mal interpretado, alegando que sua intenção era expressar que “uma só pessoa não pode tomar uma decisão tão importante como a participação do VAR no futebol.”
É crucial analisarmos esse padrão. O futebol, como um dos pilares da nossa cultura, deve ser um ambiente de inclusão e respeito. Declarações como a de Ramón Díaz não apenas desvalorizam a presença feminina em todas as esferas do esporte – de atletas a árbitras, de jornalistas a torcedoras – mas também reforçam estereótipos ultrapassados e prejudiciais. Em um momento em que o futebol feminino cresce exponencialmente e as mulheres conquistam cada vez mais espaço e reconhecimento, é inaceitável que vozes influentes ainda se apeguem a discursos tão retrógrados.
Até a publicação da notícia original, nem o treinador nem o Internacional se manifestaram sobre a mais recente declaração. Esse silêncio é ensurdecedor e abre margem para a perpetuação de uma cultura que não condiz com os valores de equidade que o esporte moderno deveria pregar. O jogo não se encerra no apito final; ele reverbera na sociedade, e a responsabilidade de quem está à frente de grandes clubes vai muito além dos resultados em campo.
É tempo de reflexão. O futebol é paixão, é tática, é emoção, mas acima de tudo, é para todos. Sem distinção, sem preconceitos. A bola, essa sim, não faz distinção de gênero. E a luta por um esporte mais justo e igualitário continua em campo e fora dele.
