Fuga de Ramagem Escancara Crise Institucional e Desafia Pilares da República
Por Alice Drummond, repórter e analista do D-Taimes
Em um cenário político já complexo, a notícia da fuga do deputado federal Alexandre Ramagem, condenado pelo Supremo Tribunal Federal (STF), ressoa como um alamento institucional. A análise de Josias de Souza, colunista do UOL, ecoa um sentimento generalizado de desmoralização dos pilares que deveriam sustentar a República brasileira: o Judiciário, a Polícia Federal e a própria Câmara dos Deputados.
A condenação do STF, que deveria ser um marco de autoridade judicial, é frontalmente desrespeitada pela evasão de Ramagem. A Polícia Federal, por sua vez, enfrenta um questionamento severo sobre sua eficácia e integridade. Como é possível que um indivíduo condenado, com passaportes presumivelmente apreendidos, consiga transpor as fronteiras nacionais e se instalar em um condomínio de luxo em Miami? Essa falha não é apenas operacional; é um golpe na credibilidade da instituição que deveria zelar pela ordem e pela aplicação da lei, impactando diretamente a sensação de segurança jurídica do cidadão comum.
O papel da Câmara dos Deputados neste drama é, no mínimo, vexatório. A manutenção do mandato de um parlamentar fugitivo e condenado, que ostensivamente utiliza atestados médicos falsos – como Josias de Souza bem observa, Ramagem foi filmado “muito bem de saúde” em Miami –, rebaixa a dignidade do parlamento. Essa inação revela uma preocupante leniência interna e uma desconexão com as expectativas da sociedade por ética e transparência na vida pública. A Casa Legislativa, ao abster-se de tomar medidas cabíveis, endossa, ainda que tacitamente, um comportamento de desfaçatez que envergonha os brasileiros.
O episódio ganha contornos ainda mais complexos com a alegação de Ramagem de ter entrado nos Estados Unidos com o “aval e apoio do governo americano”. Se verdadeira, essa afirmação projeta o problema para a esfera internacional, sinalizando um possível contencioso diplomático. O Itamaraty, o Ministério da Justiça e o próprio Palácio do Planalto teriam a delicada tarefa de negociar uma situação que, na sua essência, representa um desrespeito à soberania brasileira. Como jornalista focada nas intersecções do poder, percebo que essa trama não é apenas um escândalo individual, mas um sintoma de fragilidades profundas em nossas instituições.
A fuga de Alexandre Ramagem é mais do que uma manchete; é um espelho que reflete as fissuras na construção do nosso Estado Democrático de Direito. Ela evidencia a urgência de uma maior responsabilização e de um compromisso inabalável com a ética e a justiça, para que a confiança nas instituições não seja irremediavelmente corroída no dia a dia do cidadão brasileiro.
