Eleições 2026: A Segurança Pública no Centro do Palanque e da Guerra de Narrativas
À medida que o calendário político avança em direção a 2026, uma realidade se consolida: as operações policiais de grande vulto e a pauta da segurança pública não serão meros coadjuvantes, mas protagonistas na disputa pelo poder. Para o cidadão comum, a percepção de insegurança e a demanda por respostas efetivas se traduzem em um campo fértil para a articulação política, onde a linha entre o combate ao crime e o ganho eleitoral se torna cada vez mais tênue.
A recente megaoperação no Rio de Janeiro contra o Comando Vermelho é um estudo de caso emblemático. Em meio a discussões sobre direitos humanos, a ação policial, que mobilizou os complexos do Alemão e da Penha, catapultou a popularidade do governador Cláudio Castro. Seus seguidores nas redes sociais dobraram, e pesquisas de opinião indicaram uma aprovação massiva da população fluminense, com destaque para 87,6% nas favelas. Este fenômeno expõe a dinâmica de como demonstrações de força, com grande impacto midiático, são percebidas como respostas concretas pelo eleitorado.
Mais do que um sucesso local, a operação serviu como catalisador para a formação do “Consórcio da Paz”, uma aliança de governadores do Sul, Centro-Oeste e Sudeste. Entre eles, pré-candidatos à Presidência, como Ronaldo Caiado (Goiás) e Romeu Zema (Minas Gerais), e um possível sucessor de Jair Bolsonaro, Tarcísio de Freitas (São Paulo), sinalizam uma clara estratégia de posicionamento em oposição à abordagem do Governo Federal. Para Cláudio Castro, essa projeção nacional é um trunfo valioso em sua própria batalha sucessória contra um popular Eduardo Paes.
No espectro federal, a estratégia do governo Lula tem se diferenciado, focando na “desidratação” financeira das facções criminosas com operações de impacto institucional, como a “Carbono Oculto” no mercado financeiro e ações em portos e aeroportos. Embora essenciais, essas iniciativas não geram o mesmo apelo popular e midiático do emprego direto da força, deixando o governo vulnerável à narrativa da oposição de ser “leniente” com a criminalidade. A declaração do presidente Lula, que sugeriu que “traficantes também são vítimas dos usuários”, acendeu uma crise de imagem, rapidamente explorada pelos adversários e amplificada nas redes sociais.
Essa “guerra de narrativas” forçou uma reavaliação da postura governamental. Mesmo com a resistência interna na bancada do PT, figuras como o vice-presidente nacional do partido, Washington Quaquá, e o líder do governo na Câmara, José Guimarães, têm adotado um discurso mais assertivo, defendendo o uso da força e promovendo propostas legislativas. O Ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, apresentou um projeto de lei para regulamentar o enfrentamento às facções criminosas, e a comunicação social do governo passou a priorizar o tema, buscando reverter a percepção negativa.
No entanto, o Datafolha já mostrou que o ajuste no discurso ainda não foi suficiente para reverter a opinião pública. Cláudio Castro alcançou o ápice de sua popularidade no Rio, enquanto Lula amargou uma avaliação negativa de 60% dos entrevistados na pauta de segurança pública.
O cenário para 2026 é, portanto, de intensa disputa e polarização em torno da segurança pública. A sociedade, cansada da criminalidade, busca resultados, e os líderes políticos, cientes do poder eleitoral dessa pauta, utilizarão as operações policiais como um dos mais visíveis instrumentos para conquistar a simpatia do eleitor. Resta saber se essa corrida por aprovação se traduzirá em políticas públicas eficazes ou se servirá apenas como um palco para a encenação de força, sem atacar as raízes profundas da crise de segurança que aflige o país. O D-Taimes seguirá de perto essa intersecção crucial entre poder e o cotidiano do cidadão.
