Como repórter e analista do D-Taimes, mergulho nas entranhas do poder para desvendar as complexas intersecções entre Brasília, os grandes centros financeiros e o dia a dia do cidadão comum. Hoje, a pauta nos leva a um resgate histórico fundamental, que ilumina as bases de nossa democracia e os desafios que ainda persistem: a trajetória de Almerinda Gama e a luta pelo voto feminino.
O programa ‘Viva Maria’ da Agência Brasil acertadamente nos lembra de um passado não tão distante, onde éramos, de fato, cidadãs de segunda categoria. O voto era um privilégio masculino e censitário, restrito a uma elite de homens ricos e brancos. Um contraste gritante com a universalidade do voto que celebramos hoje, independentemente de gênero, raça ou orientação sexual. Contudo, essa conquista não foi dada; foi arduamente conquistada.
Almerinda Gama emerge como uma figura central nesse processo. Sufragista incansável e pioneira da participação de mulheres negras na política brasileira, sua história, revisitada na obra da jornalista Cibele Tenório, é um grito contra a invisibilidade imposta. O livro não apenas reintroduz Almerinda ao panteão de heróis nacionais, mas reafirma seu protagonismo na defesa do direito ao voto e, crucialmente, na luta pela igualdade de gênero e raça.
A análise crítica do D-Taimes nos impele a questionar: se a lei garante o voto universal, por que a participação feminina na política nacional ainda enfrenta entraves significativos, como aponta a advogada e professora da FGV Direito Rio, Lígia Fabris? A invisibilidade que marcou a trajetória de mulheres como Almerinda, em pleno século XX, não é um eco distante, mas um reflexo das barreiras sistêmicas que ainda hoje dificultam a plena representatividade feminina, especialmente a das mulheres negras, nos espaços de poder.
A memória de Almerinda Gama não é apenas um tributo, mas um farol. Ela nos lembra que a democracia é um processo contínuo de reivindicação e luta. Para nós, no D-Taimes, é um lembrete constante de que o jornalismo deve ir além do factual, desnudando as dinâmicas econômicas e os desafios sociais que moldam o Brasil, sempre com o compromisso ético de dar voz a todos os lados da história e, acima de tudo, descomplicar o poder para que o cidadão comum possa compreender e, mais importante, atuar na construção de uma sociedade verdadeiramente igualitária.
