A Voz do Brasil em Cartagena: Lula Mira o Extremismo e o Isolamento Global, com Aceno a Trump
Por Alice Drummond, D-Taimes
Cartagena, Colômbia – Em um cenário de crescentes tensões geopolíticas e desafios internos, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva utilizou a plataforma da 4ª Cúpula da Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac) e da União Europeia (UE) para traçar um panorama crítico da política internacional e regional. Com a agudeza que lhe é peculiar, Lula não apenas defendeu a agenda brasileira, mas também lançou indiretas a líderes que, em sua visão, contribuem para o retrocesso global.
Em seu discurso na histórica Santa Marta, o presidente abordou questões sensíveis que ecoam tanto nos corredores de Brasília quanto nos centros de poder globais. A “profunda crise” no processo de integração latino-americana e caribenha foi um dos pontos de partida de sua análise, denunciando uma região que “voltou a ser balcanizada e dividida, mais voltada para fora que para si próprio”. A intolerância política e a manipulação da informação foram apontadas como combustíveis para um “extremismo político” que “solapa a democracia” em favor de projetos pessoais e do apego ao poder.
A crítica mais notável, ainda que velada, foi direcionada à ausência do ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, em eventos cruciais como a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30). Lula descreveu as cúpulas como “um ritual vazio, dos quais se ausentam os principais líderes regionais”, sublinhando a ineficácia de reuniões que não geram resultados concretos ou engajamento dos atores centrais. Uma observação que, para o D-Taimes, ressoa como um alerta sobre a fragilidade dos compromissos internacionais quando o isolamento prevalece sobre a cooperação.
Ainda em sua intervenção, o presidente brasileiro questionou a priorização dos gastos bélicos em detrimento do desenvolvimento social e ambiental, especialmente em um contexto de conflitos na Europa. “Democracias não combatem o crime violando o direito internacional”, sentenciou Lula, defendendo o fortalecimento da cooperação transnacional no combate ao crime organizado, cujo financiamento deve ser estrangulado através de uma ação conjunta, não isolada.
A Amazônia, pauta central da diplomacia brasileira, foi apresentada como um “símbolo global de preservação ambiental”. Lula promoveu o Tropical Forest Finance Facility (TFFF), um mecanismo de financiamento inovador que visa “valorizar as florestas em pé”, demonstrando o potencial da região como motor de uma transição energética inevitável e sustentável. A COP30, a ser realizada em Belém, foi classificada como uma “oportunidade histórica” para a América Latina e o Caribe.
Ao final, Lula reforçou a importância do multilateralismo e da integração econômica, citando o acordo Mercosul-União Europeia como um exemplo a ser perseguido, apesar de seu histórico de entraves. O apelo final foi simbólico e carregado de peso político: “É chegada a hora de termos uma latino-americana no cargo de secretária-geral da ONU”. Uma declaração que não só defende a equidade de gênero, mas também reitera a busca por maior protagonismo regional no palco global.
As palavras de Lula em Cartagena servem como um balanço crítico das dinâmicas de poder que moldam o continente e o mundo. A insistência na integração, na multilateralidade e na valorização das pautas ambientais e sociais, em contraste com o extremismo e o isolamento, delineia a visão brasileira de um futuro mais cooperativo e menos conflituoso.
