A Queda de um General: Trama Golpista, Alzheimer e o Impacto na Democracia Brasileira
Por Alice Drummond, repórter e analista do D-Taimes
Brasília – A notícia da prisão do general Augusto Heleno, 78 anos, ex-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) no governo Jair Bolsonaro, e sua subsequente condenação a 21 anos de prisão por participação em uma trama golpista, marca um capítulo sombrio e revelador da política brasileira. No entanto, um novo elemento emerge com a informação de que o militar sofre de Alzheimer desde 2018, com perda significativa de memória recente – um diagnóstico que, agora tornado público, adiciona complexidade à sua responsabilização e ao próprio entendimento dos eventos.
A condenação de Heleno, juntamente com o ex-presidente Bolsonaro e outros envolvidos, pelo Supremo Tribunal Federal (STF) por tentativa de golpe de Estado e crimes correlatos, põe em xeque a estabilidade das instituições democráticas do país. O trânsito em julgado da ação penal, decretado pelo ministro Alexandre de Moraes, significa que não há mais espaço para recursos, e os condenados devem agora cumprir suas penas.
Minha missão no D-Taimes é ir além do fato e buscar a intersecção entre o poder político e as dinâmicas sociais. A revelação do quadro de saúde do General Heleno, datado de 2018 – período que antecede e abrange integralmente sua atuação à frente do GSI –, lança uma sombra sobre a capacidade de discernimento e tomada de decisões em um cargo estratégico para a segurança nacional. Embora o laudo médico ateste um “bom estado geral, alerta e com sinais vitais regulares” e um estado emocional estável no momento do exame prisional, a “perda de memória recente importante” é um dado crucial. Como a doença pode ter influenciado sua participação em reuniões no Palácio do Planalto, destinadas a encontrar “respaldo institucional para medidas excepcionais” sem qualquer base legal, é uma questão que, embora tardia para o processo judicial, permanece relevante para a análise histórica e ética.
O GSI, órgão vital para a segurança da Presidência da República, foi, segundo investigações da Polícia Federal, instrumentalizado para fins políticos. A Agência Brasileira de Inteligência (Abin), então vinculada ao GSI e chefiada por Alexandre Ramagem (também condenado), teria montado uma estrutura paralela para espionar adversários políticos. Este abuso do aparato estatal revela uma profunda crise ética e um desrespeito flagrante aos pilares da democracia.
A prisão de um general de quatro estrelas, alojado no Comando Militar do Planalto em Brasília, é um evento sem precedentes recentes. Ela não apenas simboliza a força da Justiça em um Estado Democrático de Direito, mas também nos obriga a refletir sobre os mecanismos de fiscalização e controle sobre altas patentes militares e seus papéis na esfera política.
A condição de saúde do General Heleno, ainda que de grande impacto pessoal e familiar, não atenua a gravidade dos crimes contra a democracia. No entanto, ela sublinha a necessidade de um debate mais amplo sobre a saúde mental e cognitiva de líderes em posições de poder e as salvaguardas necessárias para proteger o Estado de figuras que, porventura, não estejam em plena capacidade.
O episódio serve como um amargo lembrete de que a vigilância constante e a responsabilização são essenciais para a preservação democrática. A trama golpista, agora com suas sentenças em execução, e a revelação da doença do General Heleno, deveriam impulsionar uma reflexão profunda sobre os limites do poder e a fragilidade das instituições quando a ética e a legalidade são postas de lado.
