Sou Alice Drummond, repórter e analista focada nas intersecções entre o poder político e o mundo corporativo para o D-Taimes.
A recente nomeação do senador Fabiano Contarato (PT-ES) para a presidência da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Crime Organizado ressoa como um sinal de que o Congresso Nacional finalmente direciona seu olhar crítico para as entranhas de um problema que há muito tempo transcende as páginas policiais e se instala no cerne da estrutura política e econômica do Brasil. Com um histórico de 27 anos como delegado, Contarato traz para a cadeira da CPI não apenas a experiência jurídica, mas um compromisso público com a desarticulação das redes criminosas que, como ele próprio destacou, “corroem as estruturas da nossa democracia, comprometem a confiança da população nas instituições e alimentam um ciclo de medo, desigualdade e impunidade”.
A missão da CPI, que terá 11 senadores titulares e sete suplentes com prazo de 120 dias, vai além da simples identificação de criminosos. O foco é investigar a estruturação, expansão e funcionamento de milícias e facções, mapeando o modus operandi e as condições que permitem seu desenvolvimento em diferentes regiões do país. Para o D-Taimes, é crucial observar a promessa de ir “até o topo da cadeia criminosa”, buscando identificar e responsabilizar não apenas os executores, mas, fundamentalmente, os “líderes, financiadores e cúmplices que lucram com a violência e a corrupção”. Aqui reside o ponto nevrálgico da investigação sob uma ótica de análise de poder e mercado: o crime organizado é, em muitos aspectos, uma estrutura corporativa paralela, com fluxos de capital, redes de influência e um impacto econômico perverso, que desvia recursos, impede o desenvolvimento lícito e distorce a competição.
A atuação de milícias e facções não se restringe à violência nas periferias; ela penetra licitações públicas, domina cadeias de suprimentos ilegais, extorque comerciantes e empresários, e, em última instância, subverte a ordem econômica e social. A busca por “soluções adequadas para o seu combate, especialmente por meio do aperfeiçoamento da legislação atualmente em vigor”, revela a complexidade do desafio e a necessidade de uma resposta multifacetada do Estado.
Para a sociedade civil, os impactos são devastadores, manifestando-se na insegurança cotidiana, na diminuição do acesso a serviços básicos e na crescente percepção de impunidade. Para o mercado, a sombra do crime organizado representa um custo adicional de segurança, a fuga de investimentos e a contaminação de setores legítimos. A CPI, sob a liderança de Contarato, tem a oportunidade de radiografar essas interconexões, oferecendo um diagnóstico claro e, espera-se, propostas legislativas robustas que desmantlem as bases econômicas e políticas dessas organizações. O desafio é hercúleo, mas a transparência e a coragem prometidas são os pilares para que esta CPI não seja apenas mais um capítulo, mas um marco na luta contra os poderes ocultos que fragilizam a nação.
