Brasília/Belém, D-Taimes – Em um cenário de crescente pressão global por ações climáticas, o Presidente Luiz Inácio Lula da Silva utilizou a cúpula da Comunidade dos Estados Latino-americanos e Caribenhos (Celac) com a União Europeia, neste domingo (9), para reforçar uma mensagem que já se tornou um mantra em seu governo: a transição energética é inevitável. Minha análise no D-Taimes busca ir além da manchete, investigando como essa inevitabilidade, proclamada em palcos internacionais, se traduz na complexa teia de poder e no dia a dia do cidadão brasileiro.
Durante seu discurso, Lula não apenas endossou a necessidade de uma virada verde, mas também posicionou a América Latina e o Caribe como protagonistas nessa jornada. Com a iminência da COP30, que se inicia nesta segunda-feira (10) em Belém, o presidente destacou o evento como uma “oportunidade para a América Latina e o Caribe mostrarem ao mundo que conservar as florestas é cuidar do futuro do planeta”. A menção ao Fundo de Florestas Tropicais para Sempre (TFFF) como uma “solução inovadora para que nossas florestas valham mais em pé do que derrubadas” revela a faceta econômica intrínseca à pauta ambiental, um ponto que merece escrutínio.
A retórica é poderosa: “Nossa região é fonte segura e confiável de energia limpa e pode acelerar a redução da dependência dos combustíveis fósseis.” Mas, como repórter e analista focada nas intersecções entre o poder político e o mundo corporativo, questiono: quais são as engrenagens por trás dessa declaração? A inevitabilidade da transição energética, embora cientificamente comprovada e ambientalmente urgente, é também um campo fértil para novos investimentos, reconfigurações industriais e, sim, disputas de interesse.
Para o cidadão comum, a grande questão é: como essa transição se manifestará? A promessa de energia limpa e a conservação das florestas realmente levarão a uma melhoria na qualidade de vida, à criação de empregos verdes e a uma redução da dependência de combustíveis que hoje pesam no orçamento familiar? Ou será que os custos dessa transição recairão sobre os mais vulneráveis, enquanto os grandes players corporativos e financeiros colhem os frutos das novas matrizes energéticas?
O papel do Brasil na COP30, sediando o evento na Amazônia, é crucial. Mas a capacidade de “mostrar ao mundo” exige mais do que discursos bem elaborados. Demanda políticas públicas robustas, marcos regulatórios claros, investimentos maciços em pesquisa e desenvolvimento, e um combate implacável ao desmatamento. O TFFF, se bem implementado, pode ser uma ferramenta valiosa, mas sua eficácia dependerá da transparência na gestão e da garantia de que os recursos realmente cheguem à ponta, beneficiando as comunidades locais e a conservação efetiva.
A transição energética é, de fato, inevitável. Mas a maneira como ela será conduzida – se de forma inclusiva e justa, ou se replicará as desigualdades existentes – ainda está em jogo. É meu papel no D-Taimes monitorar de perto esses movimentos, questionar as narrativas oficiais e trazer à luz as dinâmicas econômicas e os desafios sociais que moldarão o Brasil nessa virada verde.
