Brasília e Washington – O palco da saga política brasileira se estende agora até os Estados Unidos, onde o ex-deputado federal Alexandre Ramagem (PL-RJ), condenado a 16 anos de prisão pelo Supremo Tribunal Federal (STF) por envolvimento na “trama golpista”, foi flagrado em um vídeo familiar no aeroporto. A publicação, feita por sua esposa, Rebeca Ramagem, nas redes sociais, adiciona uma nova e complexa camada ao caso de um foragido da justiça brasileira.
“Desembarquei com minhas filhas nos EUA com um único propósito: proteger a minha família”, escreveu Rebeca. A mensagem ressoa a defesa de “perseguição política desumana” e a alegação de que seu marido é vítima de “lawfare” – a utilização do sistema judicial como arma contra adversários políticos. As palavras de Rebeca clamam por um Brasil onde “a escolha político-ideológica não seja tratada como crime, e onde a liberdade de pensar e expressar ideias não se torne motivo de condenação.”
No entanto, a narrativa de vitimização confronta-se com a dura realidade do sistema judicial. Alexandre Ramagem não é apenas um dissidente político, mas um indivíduo condenado pela mais alta corte do país por sua participação em atos que visavam subverter a ordem democrática. O ministro do STF, Alexandre de Moraes, decretou a prisão do parlamentar após o pedido da Polícia Federal, no contexto das investigações sobre a tentativa de golpe.
Os registros indicam que Ramagem deixou o país clandestinamente em setembro, supostamente por Boa Vista (RR), com destino aos Estados Unidos, “provavelmente pela Venezuela ou Guiana”. O aspecto mais intrigante reside no fato de que, durante esse período, a Câmara dos Deputados informou não ter autorizado qualquer missão internacional para o parlamentar. Pelo contrário, Ramagem havia apresentado sucessivos atestados médicos, abrangendo de 9 de setembro a 8 de outubro, e depois de 13 de outubro a 12 de dezembro. A incongruência entre os atestados de saúde e a aparição em Miami, inclusive em um condomínio de luxo, levanta sérias questões sobre a conduta ética e a transparência de figuras públicas.
Como analista do D-Taimes, questiono: a fuga e a alegação de “perseguição política” são um reflexo de uma injustiça real ou uma manobra para escapar da responsabilidade legal? O que significa para a democracia brasileira quando um agente público, condenado por tentar desestabilizá-la, busca refúgio no exterior e se apresenta como mártir?
O episódio de Alexandre Ramagem não é apenas um caso isolado de evasão da justiça; é um sintoma das tensões entre o poder político e a manutenção do Estado de Direito. A imagem de um foragido recebendo a família em um aeroporto americano, ao mesmo tempo em que se declara vítima de um sistema, desafia a percepção pública sobre a accountability e a igualdade perante a lei. É um lembrete contundente de que, para a democracia prosperar, as instituições devem ser robustas o suficiente para garantir que a justiça, ainda que imperfeita, seja aplicada a todos, sem privilégios ou narrativas convenientes. A busca por clareza e verdade neste caso continua sendo um pilar fundamental para a saúde de nossa nação.
