A Fuga de Ramagem: Quando a Impunidade Política Cruza Fronteiras
Brasília, DF – 20 de novembro de 2025 — A cena, digna de um roteiro de suspense político, desenrolou-se com a notícia de que o deputado federal Alexandre Ramagem (PL-RJ), ex-diretor da Abin no governo Bolsonaro e condenado em primeira instância a 16 anos de prisão pela chamada “trama golpista”, foi flagrado em Miami, nos Estados Unidos. O que torna o episódio ainda mais alarmante é a declaração da Câmara dos Deputados de que não foi informada, nem autorizou qualquer missão oficial do parlamentar no exterior.
Como repórter e analista do D-Taimes, meu foco reside na intrincada teia entre o poder político e suas ramificações no dia a dia do cidadão comum. O caso Ramagem, revelado pelo site PlatôBR, é um estudo de caso contundente sobre as fissuras na nossa gestão pública e o desafio da accountability em um cenário político já fragilizado. A suposta “fuga” do deputado, que se esquivou de jornalistas enquanto entrava em um condomínio em solo americano, levanta questionamentos incisivos sobre a integridade de nossas instituições.
A Lei e o Voo para o Exterior: Um Vácuo de Comunicação?
A Câmara, por meio da presidência exercida pelo deputado Hugo Motta (Republicanos-PB), afirmou categoricamente o desconhecimento sobre a viagem de Ramagem. Embora o parlamentar tenha apresentado atestados médicos cobrindo extensos períodos – de 9 de setembro a 8 de outubro e, posteriormente, de 13 de outubro a 12 de dezembro – a ausência do aviso formal sobre sua saída do país e a falta de autorização para uma missão oficial desenham um cenário preocupante. Como pode um deputado federal, ainda que recorrendo em liberdade, deixar o país sob tais circunstâncias sem qualquer registro formal ou comunicação à Casa que o abriga?
O Contexto da Trama Golpista e o Pedido de Prisão
O pano de fundo é ainda mais grave: Ramagem foi condenado por sua participação na “trama golpista”, um dos episódios mais sombrios da nossa história democrática recente. A condenação, mesmo em recurso, sublinha a seriedade das acusações. A aproximação do fim da tramitação da ação e a iminência da execução das penas, não apenas para Ramagem mas para outros réus, incluindo o ex-presidente Jair Bolsonaro, intensificam a urgência e a relevância deste caso. Na semana passada, a Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) negou recursos de réus do “Núcleo 1”, o que significa que as defesas agora tentam as últimas manobras para evitar o cumprimento imediato das sentenças.
A bancada do PSOL-RJ, representada pelos deputados Pastor Henrique Vieira, Glauber Braga, Chico Alencar, Tarcísio Motta e Talíria Petrone, agiu prontamente, solicitando ao STF a decretação da prisão de Ramagem, sob a alegação de que “tudo indica” uma fuga. A defesa do deputado, por sua vez, optou pelo silêncio, uma postura que, em momentos de crise institucional, muitas vezes fala mais alto do que qualquer declaração.
A Fragilidade da Democracia e a Percepção Pública
Este episódio expõe as fragilidades do nosso sistema e a persistente percepção de impunidade que muitas vezes cerca figuras políticas de alto escalão. Como Alice Drummond, reafirmo a importância de um jornalismo que não apenas relata, mas analisa criticamente as dinâmicas de poder. A falta de transparência na gestão de parlamentares, especialmente aqueles envolvidos em processos de tamanha gravidade, mina a confiança pública e questiona a eficácia dos mecanismos de controle. O impacto no dia a dia do cidadão é direto: a sensação de que a lei nem sempre é igual para todos alimenta a desilusão e enfraquece o Estado Democrático de Direito. É imperativo que as autoridades ajam com a celeridade e a rigorosidade que o caso exige, garantindo que a justiça seja feita e a accountability se estabeleça como pilar inabalável da nossa república.
