A Esquizofrenia da Razão: Moraes Questiona Diagnóstico de Alzheimer de General Heleno e os Vácuos da Transparência no Poder
Por Alice Drummond, D-Taimes
Brasília, 29 de novembro de 2025.
Em uma reviravolta que lança luz sobre as entranhas do poder e a fragilidade de suas narrativas, o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), impôs um prazo de cinco dias para que a defesa do General Augusto Heleno – figura central da condenada trama golpista – apresente esclarecimentos detalhados sobre seu diagnóstico de doença de Alzheimer. A exigência de Moraes não é apenas burocrática; ela atinge o cerne da transparência e da ética na gestão pública, levantando questões incômodas sobre a aptidão de altos funcionários para exercerem cargos de extrema sensibilidade.
Heleno, condenado por sua participação na tentativa de golpe, teve sua defesa argumentando pela conversão de sua pena em prisão domiciliar, citando seus 78 anos e um quadro clínico “grave e progressivo”, com demência mista de Alzheimer e vascular, alegadamente presente desde 2018. A premissa é clara: a idade avançada e a condição de saúde tornariam o regime fechado perigoso.
Contudo, a análise do ministro Moraes vai além da compaixão individual e mergulha na responsabilidade institucional. O questionamento fulcral é implacável: “A Defesa, também, deverá esclarecer se, em virtude do cargo ocupado entre 2019 e 2022, o réu comunicou ao serviço de saúde da Presidência da República, do Ministério ou a algum órgão seu diagnóstico”, afirma o ministro em seu despacho.
Aqui, o dilema se aprofunda. Augusto Heleno exerceu a chefia do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) da Presidência da República entre 2019 e 2022, um período marcado por intensas tensões políticas e pelos eventos que culminaram na trama golpista. O GSI é uma estrutura nevrálgica do Estado, responsável por informações estratégicas e pela segurança da mais alta cúpula do país. A ideia de que um chefe do GSI pudesse estar convivendo com uma demência progressiva – desde antes de assumir o cargo, conforme a própria defesa alega – sem qualquer registro ou comunicação oficial, é no mínimo perturbadora.
“Não foi juntado aos autos nenhum documento, exame, relatório, notícia ou comprovação da presença dos sintomas contemporâneos aos anos de 2018, 2019, 2020, 2021, 2022, 2023; período, inclusive, em que o réu exerceu o cargo de Ministro de Estado”, pontuou Moraes, sublinhando a ausência de evidências que corroborem a alegação durante os anos em que Heleno ocupava uma posição de confiança máxima.
Este episódio força uma reflexão sobre os mecanismos de checagem e controle da saúde de agentes públicos em cargos estratégicos. Em um país que busca solidificar suas instituições democráticas, a saúde mental e física dos líderes não é apenas uma questão privada, mas de segurança nacional. As decisões tomadas em Brasília, especialmente em gabinetes com acesso a dados sensíveis, impactam diretamente o dia a dia do cidadão comum. A ausência de clareza sobre uma condição tão debilitante em um período de crise democrática levanta sérias dúvidas sobre a integridade do processo decisório e a vulnerabilidade da governança.
Atualmente, o general Heleno cumpre pena no Comando Militar do Planalto. A determinação de Moraes, embora venha acompanhada de um despacho complementar que mantém os dados médicos sob sigilo, reforça a busca por respostas em um cenário onde a opacidade muitas vezes serve para mascarar falhas e abusos de poder. É um lembrete contundente de que, para descomplicar o poder e garantir a análise crítica, é preciso questionar as lacunas e exigir que todos os lados da história, por mais sensíveis que sejam, venham à tona. O D-Taimes segue acompanhando.
