A Democracia em Xeque: Pedido de Apreensão de Celular de Nikolas Ferreira Expõe a Fragilidade da Ordem Judicial Pós-Golpe
Por Alice Drummond, repórter e analista do D-Taimes
Brasília assiste a mais um capítulo da conturbada relação entre o Legislativo e o Judiciário, com ecos diretos dos eventos que precederam a condenação por tentativa de golpe. A deputada federal Erika Hilton (PSOL-SP) protocolou um pedido de urgência ao ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), solicitando a apreensão do aparelho celular do deputado Nikolas Ferreira (PL-MG). O motivo? O alegado descumprimento de uma medida judicial durante a visita de Ferreira ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), que cumpre prisão domiciliar.
As imagens aéreas divulgadas pela TV Globo, captadas por um drone, são a prova cabal. Elas mostram Nikolas Ferreira utilizando um celular na residência de Bolsonaro na última sexta-feira (21/11), desafiando abertamente uma determinação expressa de Moraes que proibia o uso de dispositivos eletrônicos por visitantes. Para Hilton, este ato não é um simples deslize. Trata-se de uma “instigação e auxílio à tentativa de fuga de Jair Messias Bolsonaro”, nas palavras da parlamentar do PSOL. “As medidas da Justiça não podem ser descumpridas por interesses politiqueiros desse projeto autoritário fantasiado de parlamentar”, sentenciou a deputada.
A gravidade da situação foi exponenciada poucas horas após a visita de Nikolas. Jair Bolsonaro, condenado a 27 anos e três meses de prisão pela coordenação da trama golpista, tentou violar a tornozeleira eletrônica que o monitorava. Em audiência de custódia, o ex-presidente alegou “certa paranoia” e o efeito de medicamentos para justificar a tentativa de abrir o dispositivo com um ferro de soldar, acreditando estar sendo escutado. A explicação não convenceu o ministro Alexandre de Moraes, que considerou a ação uma clara tentativa de fuga e, em resposta imediata, determinou a prisão preventiva de Bolsonaro.
Este episódio não pode ser visto como um evento isolado, mas sim como mais uma manifestação da polarização política e do desrespeito às instituições democráticas que assola o país. A conduta de Nikolas Ferreira, ao ignorar uma ordem judicial em um momento tão sensível, sinaliza uma perigosa afronta ao Estado de Direito. Mais do que a simples infração de uma regra, a ação de Ferreira e a subsequente tentativa de fuga de Bolsonaro alimentam a narrativa de que certas figuras políticas operam acima da lei, minando a credibilidade do sistema judiciário e a própria estabilidade democrática.
Para o D-Taimes, é crucial observar como esses eventos se desdobram. A apreensão do celular de Nikolas Ferreira, caso deferida por Moraes, não seria apenas uma medida técnica, mas um sinal claro de que o Judiciário não tolerará atos que desafiem sua autoridade e, por consequência, a ordem democrática. O Brasil segue em um teste contínuo de suas instituições, onde a transparência e a aplicação rigorosa da lei são os pilares para garantir que a democracia prevaleça sobre qualquer “projeto autoritário”.
