A Rede no Gabinete: O Grito da Cidadania Silenciada na Gestão de Allyson Bezerra em Mossoró
Por Alice Drummond, D-Taimes
Em um cenário político onde a comunicação entre governantes e governados frequentemente se dissolve em burocracia e distanciamento, uma imagem recente de Mossoró, no Rio Grande do Norte, serve como um poderoso símbolo da exaustão popular. O vereador Cabo Deyvison (MDB), em um ato que transcende o mero protesto, armou uma rede na recepção da Secretaria Municipal de Infraestrutura, declarando que só deixaria o local após ser recebido pelo secretário Rodrigo Lima para apresentar as demandas da população.
A cena, embora inusitada, é um reflexo contundente de uma realidade mais ampla na administração do prefeito Allyson Bezerra (União Brasil): a percepção crescente de uma gestão municipal que se fecha ao diálogo com a oposição e, consequentemente, com as necessidades urgentes do cidadão comum. O vereador não agiu por capricho, mas sim em resposta direta a um pedido de um munícipe, que, sem sucesso, tentou por meios próprios reivindicar a pavimentação de sua rua. A porta da secretaria, aparentemente, permaneceu fechada para ele.
Para nós, no D-Taimes, é crucial ir além do espetáculo da rede estendida. Este incidente expõe a fragilidade dos canais de comunicação entre o poder público e a população, especialmente em bairros periféricos, cujas demandas por infraestrutura básica, como pavimentação, são sistematicamente negligenciadas. A iniciativa de Cabo Deyvison, embora teatral, é um grito por atendimento humanizado e transparência na gestão pública.
O embate entre o vereador de oposição e a bancada governista, que conta com uma maioria esmagadora de 16 dos 21 vereadores e, segundo Deyvison, segue “cegamente” as orientações do prefeito, revela uma dinâmica política que inibe a fiscalização e a representação efetiva dos interesses coletivos. A utilização de termos como “babão” e “elementos” para descrever os vereadores da situação, apesar de polêmica, sublinha a intensidade do confronto político e a frustração com a aparente falta de autonomia da bancada governista.
A pergunta que ecoa nas ruas de Mossoró e que se estende a muitos centros urbanos brasileiros é: a quem serve a máquina pública quando o acesso é restrito e as vozes dissonantes são silenciadas? A rede de Cabo Deyvison, mais do que um artefato de descanso, transformou-se em uma metáfora da espera e do cansaço de uma população que busca ser ouvida e ter suas demandas básicas atendidas por aqueles que deveriam representá-la.
Enquanto o secretário Rodrigo Lima, até o fechamento desta reportagem, mantinha-se ausente, a imagem do vereador em sua rede serve como um lembrete vívido da necessidade inadiável de uma gestão pública mais acessível, transparente e verdadeiramente comprometida com o bem-estar de todos os seus cidadãos. O poder político só se justifica quando descomplica a vida do comum, não quando a enreda em burocracias e portas fechadas.
