A Defesa Inusitada: Bolsonaro Alega “Alucinação” em Violação de Tornozeleira
Brasília – Em um cenário político já carregado de tensões, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) adicionou um novo capítulo à sua saga judicial ao justificar a violação de sua tornozeleira eletrônica, na madrugada do último sábado, com a alegação de “alucinações” e “certa paranoia”. A revelação, feita em audiência de custódia, aponta para uma interação medicamentosa como o cerne de sua defesa.
A juíza Luciana Yuki Fugishita Sorrentino conduziu a audiência virtual, onde Bolsonaro explicou que tentou romper o equipamento de monitoramento usando um ferro de solda, movido pela “alucinação” de que a tornozeleira estaria equipada com uma escuta. Ele afirmou ter agido sozinho, sem o conhecimento de sua filha Laura, de seu irmão ou de um assessor, que dormiam no momento do incidente. O ex-presidente, que disse ter conhecimento técnico para operar tal equipamento, alegou que “caiu na razão” e cessou a tentativa de rompimento, comunicando em seguida os agentes responsáveis por sua custódia.
O centro de monitoramento confirmou o alerta de violação à 0h07, e Bolsonaro foi posteriormente detido preventivamente. O relatório da Secretaria de Estado de Administração Penitenciária do Distrito Federal (Seape-DF) atestou “sinais claros e importantes de avaria” no equipamento, incluindo marcas de queimadura em sua circunferência, conforme detalhado por um vídeo exibido durante a audiência. Nele, a diretora-adjunta do Centro Integrado de Monitoração Eletrônica, Rita Gaio, questiona Bolsonaro sobre as avarias, ao que ele responde ter utilizado um “ferro quente”, especificando ser um “ferro de soldar”, por “curiosidade”.
É crucial destacar que a audiência de custódia não se debruçou sobre o mérito da acusação, mas sim sobre a legalidade da prisão e a garantia dos direitos fundamentais e da integridade física e psicológica do ex-presidente. Embora o Conselho Nacional de Justiça preconize audiências presenciais, o formato por videoconferência tem sido uma prática recorrente, especialmente em casos de alto perfil envolvendo o Supremo Tribunal Federal (STF).
A decisão sobre a manutenção da prisão de Bolsonaro caberá à Primeira Turma do STF, que incluirá os ministros Cristiano Zanin, Cármen Lúcia e Flávio Dino, além do relator Alexandre de Moraes, em sessão virtual prevista para iniciar amanhã. Este caso ilustra a complexidade da judicialização da política e o rigor com que o Poder Judiciário tem atuado na fiscalização de figuras públicas, independentemente de seu passado cargo.
A defesa baseada em “alucinação” e “paranoia” introduz uma dimensão incomum a um processo já de grande repercussão. Para além das questões legais, a narrativa ressoa no imaginário popular, levantando discussões sobre a saúde mental e a capacidade de discernimento em momentos críticos, especialmente para indivíduos que ocuparam a mais alta posição de poder no país. O episódio da tornozeleira eletrônica, portanto, transcende a mera violação de uma medida cautelar, tornando-se um marco na análise da governança e da ética na política brasileira. O D-Taimes continuará acompanhando de perto os desdobramentos desta história, buscando as interseções entre o poder e a justiça que moldam o cotidiano do cidadão.
