Banco Master: O Espelho da Influência Corporativa que Resiste em Brasília
Por Alice Drummond, D-Taimes
Brasília, 23 de novembro de 2025 — O recente caso envolvendo o Banco Master não é apenas mais um episódio no intrincado tabuleiro do poder nacional; é um doloroso lembrete de que certas “tradições” de influência e “solidariedade silenciosa” ainda moldam o cenário político-corporativo do Brasil. Mesmo após as lições amargas da Operação Lava Jato e a histórica decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) de proibir doações eleitorais de empresas em 2015 – uma tentativa de desatar os nós entre o poder econômico e a política –, o tecido que une interesses públicos e privados em Brasília parece resiliente a reformas.
A proibição das doações empresariais, embora bem-intencionada, resultou em uma conta de quase 5 bilhões de reais para o contribuinte financiar as campanhas de 2022, sem, contudo, erradicar a fundamental questão da influência. É um jogo legítimo que empresas e setores busquem diálogo com o governo e o parlamento para defender seus objetivos. O ponto crítico, como sempre, reside na natureza desse diálogo: é ele republicano ou pautado por favores e blindagens?
O dono do Banco Master, Daniel Vorcaro, exemplifica essa dinâmica. Conforme detalhado na reportagem que motivou esta análise, Vorcaro investiu pesadamente na construção de uma rede de contatos poderosos, estrategicamente estabelecida através da distribuição de favores a políticos e da contratação de figuras influentes nos Três Poderes. Embora não haja denúncias formais de irregularidades criminais nessas parcerias, os dividendos colhidos foram uma generosa dose de boa vontade e, mais preocupante, uma notável “solidariedade silenciosa” quando o empresário se viu em apuros.
Um exemplo contundente veio do senador Ciro Nogueira, presidente do Progressistas, que defendeu uma emenda para quadruplicar o valor de ressarcimento do Fundo Garantidor de Crédito (FGC) a portadores de títulos de bancos em dificuldades – como o próprio Master. A emenda não prosperou, mas a intenção política é clara. Mais adiante, outros membros do Progressistas tentaram, em vão, a destituição de diretores do Banco Central. Isso ocorreu precisamente no momento em que a autoridade monetária sinalizava um veto à compra do Banco Master pelo BRB. A ausência de uma explicação razoável para tal ofensiva levanta sérias questões sobre a autonomia das instituições e a real motivação por trás das ações parlamentares.
O desdobramento mais revelador, no entanto, é o contraste entre a dimensão do escândalo do Banco Master – com Vorcaro inclusive preso pela Polícia Federal – e a quase inexistente mobilização para a criação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar o caso. É a prova cabal de que “certas relações, quando bem cultivadas, rendem proteção”, um manto de invisibilidade que impede a apuração rigorosa.
A situação não é isolada. A CPI que investiga a “roubalheira” contra aposentados e pensionistas do INSS, igualmente permeada por indícios de relações umbilicais entre entidades e políticos, também padece de paralisia. Não é por falta de material ou de gravidade das acusações. A realidade é que, de bilionários esquemas de corrupção passados a fraudes que atingem os mais vulneráveis, a linha que deveria separar os interesses públicos dos privados em Brasília permanece perigosamente borrada.
É imperativo que, como sociedade, questionemos a persistência dessas “tradições”. O custo da “solidariedade silenciosa” e da ausência de fiscalização recai sobre o cidadão comum, que vê seus recursos e sua confiança na política erodidos por uma dinâmica de poder que parece imune à mudança. O jornalismo investigativo do D-Taimes continuará a lançar luz sobre esses pontos cegos, na esperança de que a transparência possa, enfim, se tornar a verdadeira tradição em Brasília.
