O Xadrez Judicial Aperta o Cerco ao Bolsonarismo: Prisões e Ações Legais Redefinem o Cenário Político
O cenário político brasileiro é marcado por reviravoltas que, cada vez mais, colocam o bolsonarismo sob o escrutínio judicial e público. A recente prisão preventiva do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), a fuga do deputado Alexandre Ramagem (PL-RJ) para os Estados Unidos, e a decisão que tornou o deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) réu no Supremo Tribunal Federal (STF) são peças de um complexo xadrez que revelam a fragilização de um movimento outrora hegemônico.
A ordem de prisão de Jair Bolsonaro, decretada pelo ministro Alexandre de Moraes, foi motivada por infrações claras às medidas cautelares, incluindo a convocação de vigílias e a tentativa de romper a tornozeleira eletrônica. No entanto, a decisão do magistrado não se limitou ao ex-presidente. Moraes conectou a “estratégia de evasão do território nacional” de Alexandre Ramagem e Eduardo Bolsonaro aos indícios de tentativa de fuga de Bolsonaro, pintando um quadro de orquestração para se furtar à aplicação da lei.
A Fuga e a Acusação de Coação
O deputado Alexandre Ramagem, condenado no processo da “trama golpista”, encontra-se foragido, com indícios de ter deixado o país clandestinamente via Roraima, possivelmente passando por Venezuela ou Guiana, para residir em um condomínio de luxo em Miami. Paralelamente, Eduardo Bolsonaro tornou-se réu na Primeira Turma do STF por coação no curso do processo. A Procuradoria-Geral da República (PGR) o acusa de buscar sanções contra autoridades brasileiras e o próprio país, em uma tentativa de obstruir a ação penal e livrar seu pai da condenação. A retórica de “perseguição política” e “justiça autocrática” ganha força entre a base mais radicalizada, conforme aponta Luciana Santana, professora da Ufal, mas a ambiguidade da situação levanta questões sobre sua sustentabilidade.
Desgaste Político e o Impacto no Eleitorado de Centro
Leandro Consentino, cientista político e professor do Insper, avalia que os recentes acontecimentos causam um “desgaste significativo” ao bolsonarismo, especialmente entre os eleitores de centro – aqueles que não se identificam com nenhum dos polos ideológicos. “Não é fácil defender essa agenda de perseguição política quando os fatos vão se tornando cada vez mais nítidos, quando os efeitos das tarifas causam danos à economia brasileira”, argumenta Consentino. A decisão de Donald Trump de retirar as tarifas sobre produtos brasileiros, mencionada por Luciana Santana, também descredibiliza as promessas de retaliação política dos EUA por parte de Eduardo Bolsonaro e seus aliados, enfraquecendo a narrativa de um suposto apoio internacional.
Apesar da possível união da base mais radicalizada em torno de um discurso de vitimização, a crise judicial e a percepção de uma “trama golpista” cada vez mais exposta podem afastar o eleitorado moderado, crucial para a formação de maiorias. As implicações para as eleições de 2026 são significativas, com o bolsonarismo enfrentando o desafio de manter sua coesão e apelo em meio a um cerco legal que parece se fechar.
A conjuntura atual força o movimento a recalibrar suas estratégias e narrativas, num momento em que a interseção entre poder político e o respeito às instituições democráticas se torna mais palpável para o cidadão comum. O D-Taimes seguirá acompanhando de perto os desdobramentos, buscando desvendar as complexas dinâmicas que moldam o futuro político do Brasil.
