Alice Drummond, para o D-Taimes.
Recuo de Trump no Tarifaço: Uma Vitória Diplomática e de Narrativa para Lula nas Redes
O cenário político global, frequentemente entrelaçado com as complexas dinâmicas domésticas, apresentou mais uma vez sua face multifacetada. O recente recuo do ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, sobre a imposição de um tarifaço de 40% em produtos agrícolas brasileiros não foi apenas um alívio econômico potencial, mas se transformou em um ativo político significativo para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva nas intrincadas “guerras de narrativas” das redes sociais.
Uma análise aprofundada da agência de inteligência digital Ativaweb, que monitorou mais de 3,23 milhões de postagens em diversas plataformas digitais (Facebook, Instagram, X, TikTok e YouTube) ao longo de 48 horas, revela um endosso esmagador à figura de Lula. O estudo captou 62,4% de menções positivas ao petista, em contraste com a perda de tração e engajamento da narrativa bolsonarista.
Para o cidadão comum, que acompanha as notícias através dos fluxos constantes das mídias digitais, o episódio foi prontamente interpretado como uma vitória simbólica e diplomática do governo brasileiro. Expressões como “Brasil respeitado”, “Lula acertou”, “vitória brasileira”, “não se curvou” e “Brasil soberano” inundaram as redes, solidificando a percepção de uma diplomacia eficaz e de um presidente que defende os interesses nacionais com firmeza.
Entretanto, nem tudo foi aclamação. Perfis alinhados à ala conservadora e à militância digital bolsonarista tentaram desqualificar o evento, gerando 15,7% das menções negativas. Termos como “teatro diplomático”, “humilhação”, “acordo fake”, “narrativa montada” e “Lula fraco” foram empregados. Contudo, conforme observado por Alek Maracajá, fundador da Ativaweb, a estratégia da oposição, marcada por alta repetição de frases, linguagem defensiva e agressiva, e baixa densidade argumentativa, não conseguiu transcender suas próprias “bolhas ideológicas”. O algoritmo, nesse caso, não amplificou essas vozes para audiências neutras ou indecisas, limitando seu impacto real na opinião pública.
O ponto de inflexão para essa guinada positiva na imagem de Lula foi identificado ainda em setembro, após seu encontro informal com Donald Trump nos corredores da ONU, um momento que o próprio americano descreveu como uma “química”. Antes desse encontro, a Ativaweb havia registrado um predomínio de incerteza e uma narrativa de tensão comercial. Posteriormente, houve uma “explosão” de menções positivas, associando diretamente o presidente à diplomacia e à soberania nacional, com um crescimento de 38% nas menções favoráveis a Lula, enquanto Jair Bolsonaro era, ao mesmo tempo, associado a narrativas negativas.
A análise deste episódio transcende o mero relato de um evento político. Ela ilustra vividamente como as ações no palco da diplomacia internacional, por mais sutis que sejam, são imediatamente traduzidas e refratadas no espelho das redes sociais, moldando a percepção pública e o capital político dos líderes. A “vitória” de Lula, neste contexto, é tanto um feito diplomático quanto um triunfo na comunicação digital, demonstrando a crescente importância da narrativa online na consolidação do poder político e na influência sobre o dia a dia do cidadão comum.
