Tornozeleira Violada: A Perícia da PF e o Aprofundamento da Crise em Torno de Bolsonaro
Por Alice Drummond, D-Taimes
Brasília – A arena política brasileira testemunha mais um capítulo de alta tensão com a determinação de que a tornozeleira eletrônica do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) será submetida a uma rigorosa perícia pela Polícia Federal. A violação do equipamento não é um mero incidente técnico, mas o pivô para a conversão de sua prisão domiciliar em preventiva, lançando novas luzes sobre a complexa trama jurídica e política que envolve o ex-chefe do Executivo.
A decisão, proferida pelo ministro Alexandre de Moraes do Supremo Tribunal Federal (STF), culminou na prisão de Bolsonaro na Superintendência da PF no Distrito Federal neste sábado (22). Inicialmente, a perícia seria conduzida pela Secretaria de Administração Penitenciária do DF (Seap), mas a relevância do caso elevou a responsabilidade para o Instituto Nacional de Criminalística (INC) da Polícia Federal. Peritos especializados em microvestígios e eletrônica iniciarão os exames para determinar se houve, de fato, violação ou tentativa de violação do dispositivo, identificar possíveis métodos e ferramentas utilizadas, e avaliar qualquer dano ou interferência em seu funcionamento.
Bolsonaro vinha utilizando a tornozeleira eletrônica desde 18 de julho, como parte das medidas de sua prisão domiciliar. A justificativa para a mudança para a prisão preventiva, segundo a decisão judicial, reside na alegação de que o ex-presidente tentou romper o equipamento na madrugada deste sábado, em uma ação que visaria “garantir êxito em sua fuga”. A gravidade é acentuada pela conexão que o ministro Alexandre de Moraes fez com a “vigília” organizada pelo senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) para a mesma data, sugerindo que tal evento poderia ter facilitado a suposta evasão.
Este desdobramento ocorre em um momento crítico, com o processo envolvendo a chamada “trama golpista” se aproximando das fases finais antes do trânsito em julgado, período em que não cabem mais recursos. A defesa do ex-presidente, em nota, expressou “perplexidade” diante da decisão e garantiu que irá recorrer.
Para além dos aspectos técnicos da perícia, o episódio da tornozeleira violada ressalta a intrincada relação entre os poderes em Brasília. A intervenção da Polícia Federal, o papel do STF na determinação das medidas cautelares e a reação da Procuradoria-Geral da República (que emitiu parecer favorável à prisão preventiva) demonstram a vigilância constante sobre figuras políticas de alto escalão. A situação de Bolsonaro, agora sob custódia preventiva, serve como um lembrete vívido da força do sistema judiciário em apurar e reagir a alegadas infrações, independentemente do cargo ocupado anteriormente. O impacto dessa nova fase no cenário político e na percepção pública sobre a justiça e a integridade de ex-mandatários será, sem dúvida, um ponto central de nossa análise contínua no D-Taimes.
