Brasília, 22 de novembro de 2025 – A democracia brasileira enfrenta constantes desafios, e a recente revelação sobre o deputado federal Alexandre Ramagem (PL-RJ) ilustra de forma contundente a desconexão entre o poder e a responsabilidade pública. Condenado por crimes gravíssimos no âmbito de uma trama golpista e atualmente foragido da Justiça, Ramagem utilizou impressionantes R$ 34,8 mil da cota parlamentar entre setembro e novembro deste ano. Um verdadeiro escárnio com o dinheiro do contribuinte.
A cota parlamentar, um mecanismo desenhado para custear despesas inerentes ao exercício do mandato, foi transformada em um subsídio para a vida de um fugitivo. As notas fiscais, disponíveis no portal da Câmara dos Deputados, detalham gastos com combustível – a maioria em postos no Rio de Janeiro, sua base eleitoral – e com aluguel de veículos. Mais alarmante ainda, quase R$ 13 mil foram destinados à “divulgação da atividade parlamentar”, incluindo a contratação de uma empresa especializada em marketing para redes sociais e impulsionamento de posts. A quem se destina essa “atividade parlamentar” quando o parlamentar está clandestinamente fora do país, evadindo-se da justiça?
A cronologia dos fatos é crucial. Ramagem deixou o Brasil clandestinamente em setembro, com a investigação da Polícia Federal apontando uma rota improvável via Boa Vista (RR) para os Estados Unidos, possivelmente pela Venezuela ou Guiana. Avistado em um condomínio de luxo em Miami com a esposa, sua fuga se deu concomitantemente ao uso indevido das verbas públicas. O ministro do STF, Alexandre de Moraes, decretou sua prisão após a condenação por organização criminosa armada, tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito e golpe de Estado.
A Câmara dos Deputados, por sua vez, informou não ter autorizado qualquer missão do deputado no exterior. Para justificar sua ausência, Ramagem apresentou atestados médicos cobrindo o período de 9 de setembro a 12 de dezembro, um expediente que agora levanta sérias dúvidas sobre a veracidade e a fiscalização desses documentos diante de sua situação de foragido.
Este episódio não é apenas um caso isolado de má conduta; ele expõe a fragilidade dos mecanismos de controle e a audácia de agentes públicos que parecem operar acima da lei. O uso de dinheiro público por um parlamentar foragido, que deveria estar prestando contas à sociedade, é um ultraje à ética e à transparência. A sociedade exige respostas claras e ações firmes para que a cota parlamentar não se torne um passaporte para a impunidade, mas sim um instrumento de trabalho a serviço do povo.
É imperativo que a Câmara dos Deputados revise com rigor os procedimentos de fiscalização e reembolso, garantindo que o dinheiro público seja utilizado com probidade e responsabilidade. O “dia a dia do cidadão comum” é impactado diretamente por cada real desviado ou mal utilizado, e a confiança nas instituições é corroída a cada revelação de privilégios e impunidade.
