Em João Pessoa, o vereador Chico do Sindicato (Avante) realizou na última sexta-feira (21) a entrega de novas cadeiras de rodas na comunidade da Citex. Um gesto que, à primeira vista, celebra a assistência a quem mais precisa, mas que, na lente do D-Taimes, convida a uma análise mais profunda sobre as dinâmicas entre o poder político, a responsabilidade social e a construção da imagem pública.
A ação foi noticiada com destaque para o caso de uma moradora que, por anos, utilizava um equipamento sem as mínimas condições de uso. A entrega de uma nova cadeira de rodas é, sem dúvida, um alívio imediato para a beneficiada, resgatando um mínimo de dignidade e mobilidade. Contudo, o fato de uma cidadã precisar depender de um gesto pontual de um parlamentar, após “anos utilizando uma cadeira sem condições de uso”, levanta uma série de questionamentos incômodos sobre a eficácia das políticas públicas e a acessibilidade como um direito fundamental.
Pelas suas redes sociais, o vereador Chico do Sindicato enfatizou o “caráter social da iniciativa”, declarando que seu mandato “seguirá priorizando quem mais precisa”. As mensagens, “um dia de cada vez, uma vida de cada vez” e “O nosso mandato tem propósito, tem verdade e tem compromisso com o povo. É por isso que fazemos, e é por isso que não vamos parar”, ressoam como um compromisso inabalável. No entanto, para além da retórica, cabe à jornalista Alice Drummond e ao D-Taimes indagar: por que essas necessidades básicas, como a garantia de equipamentos de acessibilidade, não são endereçadas de forma sistêmica e contínua pelo poder público municipal, independente da ação individual de um vereador?
A distribuição de itens essenciais, embora louvável em sua execução direta, não pode substituir a formulação e implementação de políticas públicas robustas que garantam direitos de forma universal. Quando a solução para uma necessidade básica se transforma em notícia e plataforma para “reforçar o compromisso” de um mandato, é fundamental questionar se estamos diante de um verdadeiro avanço na gestão pública ou de uma estratégia política que capitaliza sobre a carência da população.
É imperativo que as ações sociais dos nossos representantes não se limitem ao assistencialismo visível, mas se traduzam em investimentos duradouros em infraestrutura, saúde e programas que empoderem os cidadãos, garantindo que o direito à acessibilidade e à dignidade não dependa da benemerência, mas seja uma realidade inquestionável. O compromisso com o povo deve ser refletido na estrutura perene do estado, não apenas em atos de bondade que, por vezes, mascaram as falhas do sistema.
