Fogo na COP30: Desinformação Incendeia o Debate Político sobre o Clima em Belém
Belém, Pará – Um incidente de pequena proporção na Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP30), em Belém, no dia 20 de novembro de 2025, rapidamente se tornou combustível para a disseminação de desinformação com cunho político e religioso. Um incêndio em um dos pavilhões do evento, noticiado pela Agência Pública, foi alvo de narrativas distorcidas que buscaram conectar o ocorrido a uma controversa estátua presenteada pela China.
O fogo, que se iniciou por volta das 14h15 no estande da Comunidade da África Oriental, situado na área do Pavilhão da África, não deixou feridos. A causa do incidente ainda está sob apuração. No entanto, antes mesmo de informações oficiais serem amplamente divulgadas, perfis em redes sociais como o X/Twitter já disseminavam alegações falsas. Mensagens como “Incêndio em um dos pavilhões da COP30 em Belém-PA. Seria a ‘resposta’ à estátua presenteada pela China em formato demoníaco para a COP30?” circularam rapidamente, desviando o foco do fato e alimentando teorias conspiratórias.
A Agência Pública, presente no local, reportou que, apesar da ausência de feridos, não houve sirenes de emergência para evacuação, e a organização inicial para conter o fogo e sair do local partiu de civis. Marcelo Rocha, diretor executivo do Instituto Ayika, que se apresentaria no pavilhão vizinho, relatou que “não teve aviso de saída, a gente que começou a se organizar. Foram civis que pegaram os extintores e tentaram resolver o incêndio.”
A desinformação ganhou força ao deturpar a localização do incêndio, com algumas publicações afirmando erroneamente que o fogo teria atingido o pavilhão chinês ou um local “próximo a um estande de exibição da China”, como reportado por um site. Essas alegações foram usadas para reforçar discursos políticos polarizados, como “BOLSONARO TEM RAZÃO. PAVILHÃO DA CHINA!!!!!”, postado por um perfil satírico, mas que ecoou em diversas bolhas.
A raiz dessa “guerra de narrativas” está na polêmica gerada pela estátua “Espírito Guardião Dragão-Onça”, presenteada pela China ao Brasil para a COP30. A obra, que mistura elementos do dragão chinês com a onça brasileira, foi interpretada por alguns líderes religiosos, como o apóstolo Estevam Hernandes, da igreja Renascer, como um “símbolo bíblico do engano e poder contrário a Deus”, sugerindo uma fusão da identidade nacional com valores “não cristãos”. Essa interpretação abriu portas para a associação infundada entre a estátua e o incêndio.
A organização da COP, em comunicado emitido às 14h58 após o ocorrido, informou que a zona azul do evento passou para a responsabilidade do país anfitrião e que o local foi evacuado por ordem do chefe dos bombeiros brasileiro. O ministro do Turismo, Celso Sabino, confirmou o controle do fogo e a ausência de feridos. No final da tarde, a presidência da COP detalhou que o fogo foi controlado em aproximadamente seis minutos e que 13 pessoas foram atendidas por inalação de fumaça, sem gravidade. A Zona Azul foi temporariamente fechada para avaliação de segurança, enquanto a Zona Verde manteve suas atividades.
Este episódio serve como um lembrete contundente de como a desinformação pode ser rapidamente instrumentalizada em contextos de grande visibilidade, transformando incidentes isolados em ferramentas para agendas políticas, distorcendo fatos e minando a credibilidade de eventos cruciais como a COP30, que busca soluções para desafios globais como as mudanças climáticas.
