Por Alice Drummond, D-Taimes
Belém do Pará se torna, neste novembro de 2025, o epicentro das discussões climáticas globais com a COP30. Minha missão no D-Taimes me leva a aprofundar as complexas intersecções entre o poder político, as grandes corporações e o impacto direto na vida do cidadão comum. E é exatamente essa dicotomia que marca a transição da Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas para sua fase política, após uma semana de intensos trabalhos técnicos.
A presidência da COP30 celebrou a conclusão da primeira fase, destacando “bons resultados” e a aprovação por consenso de temas cruciais como a transição energética e os relatórios de adaptação. Até mesmo questões administrativas e de financiamento obtiveram um avanço técnico, sinalizando um otimismo cauteloso. André Corrêa do Lago, presidente da Conferência das Partes, projeta que ao menos 15 tópicos evoluam para decisões concretas na próxima semana, um desafio que exige não apenas consenso técnico, mas sobretudo vontade política.
Contudo, a grande cartada econômica da Conferência foi o lançamento dos Princípios de Convergência de Padrões para Finanças Mais Sustentáveis. Este é um movimento estratégico para mobilizar os ambiciosos US$ 1,3 trilhão anuais previstos no Roteiro de Baku a Belém, um valor que sublinha a escala do capital necessário para enfrentar a crise climática. A questão que se impõe é: como esse trilhão de dólares será levantado, por quem e, mais importante, como ele se traduzirá em ações que efetivamente mudem o cotidiano das populações mais vulneráveis? As grandes instituições financeiras e o setor corporativo estão atentos, pois suas futuras estratégias de investimento e responsabilidade social serão inexoravelmente moldadas por esses novos padrões.
Enquanto a “Zona Azul” da COP30 fervilhava com diplomatas e especialistas em negociações a portas fechadas, as ruas de Belém pulsavam com uma energia diferente e igualmente vital. Milhares de pessoas – povos indígenas, jovens ativistas, movimentos sociais e comunidades tradicionais – uniram-se na Marcha Mundial pelo Clima, organizada pela Cúpula dos Povos. Suas vozes ecoavam as demandas por justiça climática, proteção territorial e ações governamentais mais incisivas e imediatas.
Essa dualidade é o cerne do que o D-Taimes busca desvendar: os acordos técnicos e os compromissos financeiros, por mais grandiosos que sejam, só terão verdadeiro impacto se responderem às urgências e aos clamores da sociedade. A próxima semana será decisiva não apenas para os documentos finais da COP30, mas para demonstrar se as estruturas de poder estão, de fato, prontas para ouvir e agir em consonância com as necessidades de quem mais sofre os efeitos das mudanças climáticas. O desafio de Belém vai além das metas e dos trilhões; reside na capacidade de transformar retórica em realidade palpável para todos.
