Em meio a um cenário de complexas dinâmicas de segurança, o governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro (PL), vem a público para expressar um otimismo contagiante. Segundo ele, a recente megaoperação nos complexos da Penha e do Alemão representou um “ponto de virada”, reacendendo a “esperança” da população na eficácia do combate ao crime organizado. Em entrevista, Castro não apenas enalteceu os resultados policiais, mas destacou a restauração da confiança pública como o principal saldo da ação, realocando a segurança pública no centro do debate nacional.
Como repórter e analista do D-Taimes, é imperativo ir além dos comunicados oficiais e investigar as camadas mais profundas dessa narrativa. A “esperança” que o governador menciona ecoa nas ruas, ou é um eco da máquina governamental? É preciso questionar: uma megaoperação, por mais bem-sucedida que seja em termos de apreensões e prisões, é capaz de, por si só, alterar a percepção de segurança de forma duradoura e resolver os problemas estruturais que alimentam o crime organizado no Rio?
Castro argumenta que a ofensiva conferiu legitimidade política para avançar com o plano de retomada de territórios dominados pelo crime, uma exigência do Supremo Tribunal Federal (STF) no âmbito da ADPF 635, a conhecida “ADPF das Favelas”. Este plano, coordenado pelo Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP), tem previsão de entrega ao STF até 20 de dezembro e é visto pelo governador como um “farol” para reorganizar a política de segurança no estado.
Entretanto, nossa análise no D-Taimes aponta para a necessidade de um escrutínio mais rigoroso. A retomada territorial, ainda que vital, não pode ser o único pilar de uma política de segurança eficaz. Quais são os mecanismos de sustentabilidade dessas operações? Como o poder público pretende preencher o vácuo de poder e serviço que muitas vezes se segue a essas intervenções, para que não haja um mero rodízio de controle entre as facções criminosas? A ausência de uma abordagem integrada, que inclua investimentos sociais robustos, educação, saúde e oportunidades econômicas para as comunidades afetadas, pode transformar essa “esperança” em um ciclo de frustração.
O compromisso com a ADPF 635 é um avanço na busca por uma segurança pública pautada por direitos e estratégias claras. Contudo, o impacto real no cotidiano do cidadão comum, especialmente aqueles que residem nas áreas de intervenção, será medido pela capacidade do estado de oferecer mais do que apenas a ausência da violência imediata. Será medido pela presença contínua do Estado com serviços básicos e pelo respeito aos direitos humanos, pilares de um jornalismo que busca contextualizar e descomplicar o poder sem abrir mão da análise crítica.
