Escândalo no INSS: PF Detalha Esquema de Propina de R$ 250 Mil Mensais Envolvendo Ex-Presidente
Por Alice Drummond, D-Taimes
Brasília, 14 de novembro de 2025 – A intrincada teia que conecta o poder político e os interesses corporativos voltou a ser desvendada em uma operação da Polícia Federal que choca o país. Em mais um capítulo da Operação Sem Desconto, deflagrada nesta quinta-feira (13), a PF trouxe à luz detalhes perturbadores sobre um esquema de corrupção que teria desviado somas vultosas de aposentados e pensionistas, envolvendo diretamente o ex-presidente do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), Alessandro Stefanutto.
Segundo o relatório da investigação que embasou a recente fase da operação, Stefanutto é apontado como beneficiário de R$ 250 mil mensais em propina. O dinheiro, de acordo com a PF, era o resultado de um engenhoso esquema de descontos não autorizados aplicados sobre os benefícios previdenciários de milhões de cidadãos. Uma cifra que não só assusta pela magnitude, mas também pela crueldade de atingir uma das parcelas mais vulneráveis da nossa sociedade.
A prisão de Stefanutto foi determinada pelo ministro André Mendonça, do Supremo Tribunal Federal (STF), relator do caso. Os investigadores detalham que o ex-dirigente do INSS utilizava sua influência na Confederação Nacional dos Agricultores Familiares e Empreendedores Familiares Rurais (Conafer) para alimentar o esquema. Para ocultar a origem ilícita dos valores, empresas de fachada — incluindo uma pizzaria, uma imobiliária e um escritório de advocacia — teriam sido empregadas, transformando negócios legítimos em meros disfarces para a lavagem de dinheiro. O codinome “Italiano” era usado para se referir a Stefanutto nas comunicações investigadas, com os pagamentos ocorrendo majoritariamente entre junho de 2023 e setembro de 2024.
“Ficou claro que, em troca de sua influência, Stefanutto recebia propinas recorrentes, utilizando diversas empresas de fachada para ocultar os valores. O valor mensal de sua propina aumentou significativamente para R$ 250 mil após assumir a presidência do INSS. Seus pagamentos provinham diretamente do escoamento da fraude em massa da Conafer”, afirma a Polícia Federal.
A PF conclui que Stefanutto desempenhou um “papel de facilitador” crucial. Antes mesmo de assumir a presidência do INSS, como procurador do órgão, ele já teria agido “de forma decisiva” para viabilizar juridicamente a celebração de um Acordo de Cooperação Técnica (ACT) da Conafer em 2017. Posteriormente, em seu posto mais alto, teria “blindado o esquema”, o que teria culminado no expressivo aumento da propina mensal.
A gravidade do caso reside não apenas no desvio financeiro, mas no profundo abalo à confiança pública nas instituições. “O pagamento de valores indevidos aos altos gestores do INSS era necessário porque, sem o apoio deles, seria impossível continuar com uma fraude de tamanha magnitude, que envolvia mais de 600 mil vítimas e gerava milhares de reclamações judiciais e administrativas”, sublinhou o relatório da PF. É a materialização de como a corrupção na alta cúpula pode ter um impacto devastador na vida de centenas de milhares de brasileiros.
Em meio às revelações, a defesa de Alessandro Stefanutto declarou não ter tido acesso ao teor da decisão que levou à sua prisão, classificando-a como “completamente ilegal”, e reiterando a colaboração do ex-presidente com as investigações. A Conafer, por sua vez, manifestou-se disposta a cooperar com as autoridades, defendendo a presunção de inocência de seus integrantes e clamando pelo respeito aos direitos fundamentais dos investigados.
Este caso reforça a urgência de um jornalismo que não apenas relata, mas analisa as complexas dinâmicas entre o poder político, a esfera corporativa e a vida do cidadão comum. É um lembrete sombrio dos desafios que o Brasil enfrenta para garantir a integridade da gestão pública e proteger aqueles que mais precisam da assistência do Estado. O D-Taimes continuará acompanhando de perto os desdobramentos desta operação, sempre em busca de aprofundar a compreensão sobre os mecanismos que moldam o nosso país.
