COP30 na Amazônia: Lula Confronta Negacionistas e Exige Prioridade ao Clima sobre Conflitos
Por Alice Drummond, D-Taimes
Belém do Pará, 10 de novembro de 2025. A 30ª Conferência do Clima da ONU (COP30) iniciou-se sob a sombra imponente da Amazônia, um palco escolhido pelo Brasil para sublinhar a urgência e a centralidade da floresta na agenda climática global. Em um discurso marcante na abertura do evento, o Presidente Luiz Inácio Lula da Silva não mediu palavras ao classificar a mudança climática como uma “tragédia do presente” e ao exigir uma “nova derrota” aos negacionistas, figuras que, em sua visão, ameaçam o progresso e a própria ciência.
A escolha de Belém para sediar a COP30, a primeira realizada na Amazônia, não é apenas um feito logístico, mas um forte statement político. Lula, ao defini-la como uma “proeza” frente aos desafios locais do Pará, ressaltou a coragem de confrontar a realidade complexa. A citação do recente tornado no centro-sul do Paraná serviu como um lembrete vívido e doloroso: os impactos do aquecimento global não são uma ameaça distante, mas uma calamidade já instalada no cotidiano dos cidadãos. O jornalismo que me pauta nos leva a questionar: estamos realmente preparados para encarar essa “tragédia do presente” com a seriedade que ela demanda? Ou continuaremos a nos iludir com discursos que desviam a atenção do essencial?
A Geopolítica do Negacionismo e a Economia da Guerra
A retórica presidencial atacou diretamente os “obscurantistas” que “controlam algoritmos, semeiam o ódio e espalham o medo”, minando instituições e a credibilidade da ciência. Essa é uma análise crucial, pois desvenda a engenharia da desinformação, que se tornou uma ferramenta poderosa nas mãos daqueles cujos interesses são contrariados pela agenda climática. No D-Taimes, entendemos que desmistificar essas narrativas é essencial para o cidadão comum, que é bombardeado por informações conflitantes e pela polarização política. É uma guerra de narrativas, e o planeta é o campo de batalha.
Mas Lula foi além da crítica aos negacionistas, mergulhando na análise das dinâmicas econômicas que moldam as decisões globais. A comparação entre o custo de financiar a ação climática e o de sustentar guerras é um ponto nevrálgico. “Seria muito mais barato colocar US$ 1,3 trilhão para acabar com o problema climático do que colocar US$ 2,7 trilhões para fazer guerra como fizeram no ano passado”, argumentou o presidente. Esta é uma equação que expõe a hipocrisia e a miopia de certos investimentos globais. Enquanto o setor militar e suas indústrias lucram, a conta climática se avoluma, impactando principalmente os mais vulneráveis. É uma escolha política e corporativa que define prioridades e, consequentemente, o futuro de milhões.
Justiça Ambiental e Ausências Notáveis
O engajamento do Brasil na Cúpula de Líderes, que culminou na declaração sobre racismo ambiental, marca um avanço ético e social. Unir justiça racial e ação climática em um acordo internacional é um reconhecimento tardio de que os impactos ambientais recaem desproporcionalmente sobre populações marginalizadas. No entanto, o cenário internacional da COP30 não é isento de fricções. A notável ausência de representantes de alto nível dos Estados Unidos, incluindo o próprio ex-presidente Donald Trump na cúpula anterior, é um sinal preocupante. Em um momento de crise global, a falta de engajamento de uma das maiores potências mundiais levanta sérias questões sobre o futuro do multilateralismo e a efetividade dos compromissos internacionais.
Com 50 mil participantes, entre diplomatas, ativistas, cientistas e empresários, as mesas de negociação em Belém terão a árdua tarefa de transformar discursos em planos concretos. Acelerar a transição energética e proteger as florestas tropicais são os pilares, mas o caminho para metas, prazos e recursos definidos será tortuoso. A COP30, nas palavras de Lula, “será a COP da verdade”, mas essa verdade depende da coragem e do compromisso de todos, inclusive daqueles que preferem o silêncio e a ausência. O D-Taimes estará atento às costuras e aos impasses, buscando sempre descomplicar o poder e os desafios que moldam o nosso Brasil e o nosso planeta.
