Sou Alice Drummond, e para o D-Taimes, hoje, mergulhamos em um projeto que promete redefinir o cenário tecnológico e econômico do Nordeste brasileiro: o “Green Digital Hub” no Pecém, Ceará. Com um aporte que pode alcançar impressionantes R$ 571 bilhões, a iniciativa, aprovada pelo Conselho Nacional das Zonas de Processamento de Exportação (CZPE), posiciona o Brasil na vanguarda da infraestrutura digital global, mas nos convida a questionar a profundidade de seu compromisso “verde” e seu impacto no cidadão comum.
A espinha dorsal deste ambicioso projeto reside na instalação de pelo menos cinco data centers gigantes. Liderados por titãs como a Bytedance – a empresa por trás do TikTok – e a Exportdata Company, que sozinha investe R$ 349 bilhões em quatro unidades, esses centros de dados não são apenas repositórios de informação; são fortalezas digitais que prometem serviços de hiperescala para o mercado externo. É um movimento estratégico que visa transformar o Pecém em um ponto nevrálgico para o fluxo de dados global, um verdadeiro “Real Estate” digital, como bem observa Machidovel Trigueiro Filho, Secretário Municipal de Ciência, Inovação e Desenvolvimento Tecnológico de Caucaia.
A narrativa oficial destaca o pilar da sustentabilidade, com R$ 81 bilhões dedicados a energias limpas e renováveis. A Exportdata planeja geração própria de energia eólica e solar, enquanto o Grupo Casa dos Ventos assume a crucial tarefa de prover infraestrutura energética, incluindo uma unidade industrial de amônia verde, com um investimento adicional de R$ 12 bilhões. A promessa é de um “grande ecossistema” alimentado por fontes estáveis e exportáveis. No entanto, a alcunha de “Polo Digital Verde” exige um escrutínio rigoroso. Será que a magnitude do consumo energético inerente a data centers pode ser totalmente compensada, ou estamos diante de uma aposta ousada em um futuro genuinamente sustentável, ou de um greenwashing bem arquitetado em termos de relações públicas? O impacto real no meio ambiente local e regional, para além dos benefícios da energia renovável, deve ser monitorado com a máxima transparência.
Do ponto de vista social, a geração de cerca de 95 mil empregos diretos e indiretos é, sem dúvida, um motor de desenvolvimento. A maior parte desses postos surgirá durante a fase de construção, injetando capital e oportunidades na economia local. Contudo, é a fase de operação que demandará os cargos mais qualificados, levantando a questão: a região está preparada para fornecer essa mão de obra especializada? O investimento em capacitação e educação local será proporcional ao avanço tecnológico, garantindo que os benefícios do hub sejam inclusivos e não apenas concentrados em uma elite técnica importada?
Enquanto o projeto avança para a fase de pré-obra, com a busca por licenciamentos ambientais e urbanísticos, a robustez da governança se torna primordial. As autoridades de Caucaia e a Superintendência Estadual do Meio Ambiente (Semace) têm a responsabilidade de garantir que a ambição econômica não sobreponha a preservação ambiental e o ordenamento territorial. A visão de data centers multiempresas, ao contrário de um único exportador, sugere uma resiliência maior e um potencial de atração diversificada, consolidando o Pecém como um hub estratégico para diversas indústrias que buscam infraestrutura de dados de alta performance e baixa latência.
Em suma, o “Green Digital Hub” do Pecém é um empreendimento de escala monumental, com o potencial de impulsionar o Ceará e o Brasil para uma nova era digital e econômica. No D-Taimes, estaremos vigilantes. Acompanharemos de perto não apenas o volume de investimentos e a criação de empregos, mas também a veracidade da sua “cor verde”, a equidade na distribuição de seus benefícios e a solidez das políticas públicas que o cercam. Porque, para o cidadão comum, o progresso só é real quando é transparente, inclusivo e, verdadeiramente, sustentável.
