BELÉM – A Cúpula do Clima em Belém, prelúdio para a aguardada 30ª Conferência das Partes (COP30), encerrou com o Presidente Luiz Inácio Lula da Silva lançando sinalizações políticas que, segundo especialistas, podem moldar as próximas negociações globais. No entanto, como Alice Drummond, repórter e analista do D-Taimes, não posso deixar de perscrutar as complexas e, por vezes, contraditórias dinâmicas que subjazem o discurso de Brasília.
A principal ambiguidade reside na postura do governo brasileiro: enquanto Lula defende vigorosamente o “afastamento” dos combustíveis fósseis e a meta ambiciosa de desmatamento zero até 2030, a sombra da exploração de petróleo na Foz do Amazonas paira sobre o cenário. Essa dualidade expõe a intrincada intersecção entre o poder político e os interesses corporativos, onde a busca por desenvolvimento econômico pode colidir frontalmente com os imperativos da sustentabilidade ambiental. É um dilema que reflete os desafios de equilibrar a retórica global com as realidades econômicas e sociais internas.
As mensagens de Lula na Cúpula, direcionadas a representantes de 125 países e a pesos-pesados do mundo financeiro e comercial, focaram na necessidade de dois “mapas dos caminhos”: um para reduzir a dependência global de combustíveis fósseis e outro para frear e reverter o desmatamento. Claudio Angelo, coordenador de Política Internacional do Observatório do Clima, enfatiza a relevância dessas mensagens em um contexto geopolítico onde algumas nações, inclusive os Estados Unidos, demonstram retrocessos em seus compromissos climáticos. “Espero que os delegados da COP30 recepcionem esse sinal político”, pontuou Angelo, destacando a urgência de transformar palavras em ações.
Alexandre Prado, líder de mudanças climáticas do WWF-Brasil, corroborou a importância do discurso de Lula, que abordou temas cruciais como adaptação climática, eficiência energética e uma transição justa, que não penalize as economias mais vulneráveis. A expectativa é que essas orientações presidenciais influenciem diretamente os negociadores na COP30.
Auxiliares do Presidente comemoram o “protagonismo” do Brasil, que, ao sediar a Cúpula e se preparar para a COP30, o G20 e os Brics, busca consolidar sua imagem internacional. Contudo, a análise crítica revela que o verdadeiro teste para esse protagonismo não está apenas na projeção, mas na capacidade de Brasília de transcender as contradições internas. O desafio é converter as “sinalizações políticas” em medidas concretas e coerentes, garantindo que os compromissos ambientais se alinhem com as ações econômicas, sem ceder excessivamente às pressões dos grandes centros financeiros e dos lobbys. A credibilidade do Brasil no cenário climático global, e o futuro do cidadão comum diante das mudanças climáticas, dependem dessa coerência inegociável.
