Nordeste e Brasília Unem Forças: A Estratégia Integrada Contra o Crime Organizado
Por Alice Drummond, D-Taimes
Em um movimento estratégico que sinaliza um alinhamento crescente entre os poderes regionais e federais, representantes dos nove estados do Nordeste declararam apoio às propostas de segurança pública do governo federal que atualmente tramitam no Congresso Nacional. A reunião, ocorrida nesta quinta-feira (6) em Brasília, no Ministério da Justiça e Segurança Pública, com o ministro Ricardo Lewandowski, sublinha a urgência e a complexidade do combate à criminalidade organizada no país.
À frente do Consórcio Interestadual de Desenvolvimento Sustentável do Nordeste, o governador do Piauí, Rafael Fonteles, destacou a importância de duas iniciativas-chave: a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) da Segurança Pública e o Projeto de Lei Antifacção. A PEC visa uma integração profunda entre as forças de segurança de todo o território nacional, enquanto o PL, enviado à Câmara pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, busca munir o Estado de ferramentas mais eficazes para desmantelar as organizações criminosas.
“O item mais importante para o combate à criminalidade organizada é a integração das forças, incluindo a integração de dados, de informações e de inteligência”, afirmou Fonteles. Minha análise no D-Taimes sempre apontou para a falha crônica na coordenação entre esferas de poder como um dos maiores gargalos na segurança. A proposta federal, com o aval dos governadores nordestinos, acende uma luz de esperança para um novo capítulo de cooperação.
A materialização dessa sinergia já pode ser vista. A recente Operação Carbono Oculto 86, que resultou na interdição de 49 postos de combustíveis no Piauí, Maranhão e Tocantins por suspeita de lavagem de dinheiro para o PCC, é um exemplo contundente. “A Operação Carbono Oculto 86 demonstra que, com integração e com inteligência, a gente pode estar à frente no combate à criminalidade, asfixiando, sobretudo, o poder financeiro dessas organizações”, ressaltou o governador. Esta operação expõe a intersecção perigosa entre o crime organizado e a economia “real”, onde facções buscam legitimar seus ganhos ilícitos em setores aparentemente lícitos, como o de combustíveis.
O ministro Lewandowski ecoou essa percepção, enfatizando que a criminalidade organizada “transcende as fronteiras estaduais” e que a troca de informações é indispensável para um combate efetivo. É uma constatação crucial para se entender a dinâmica do poder do crime no Brasil. Sem uma visão holística e sem o compartilhamento de inteligência, qualquer esforço isolado se torna um tiro no escuro.
Interessantemente, o Consórcio Nordeste mantém uma posição divergente de outros grupos de governadores, como o “Consórcio da Paz”, que defende a rotulação de facções como terroristas. Fonteles argumenta que o Projeto de Lei Antifacção é mais efetivo e respeita o Estado Democrático de Direito, alertando para possíveis “problemas” na abordagem que busca equiparar crime organizado a terrorismo. Essa nuance revela a complexidade do debate legislativo e as diferentes visões sobre como o Estado deve categorizar e combater essas ameaças.
Lewandowski, por sua vez, garantiu que o governo federal defende um “federalismo cooperativo”, aberto a sugestões e visões dos estados para construir um panorama mais global da situação. Em um cenário político muitas vezes marcado pela polarização, a busca por consenso em uma pauta tão crítica como a segurança pública é um passo notável. Resta agora acompanhar a tramitação dessas propostas e, mais importante, a sua implementação, para que a integração prometida se traduza em um cotidiano mais seguro para o cidadão comum.
