Saúde de João Pessoa sob Lupa: Secretário Apresenta Contas e Desafios de Gestão na Câmara
João Pessoa, PB – A transparência dos gastos públicos na saúde municipal esteve em pauta na manhã da última terça-feira (4) na Câmara Municipal de João Pessoa (CMJP). O Secretário Municipal de Saúde (SMS), Luís Ferreira Filho, compareceu perante os vereadores para a tradicional prestação de contas do segundo quadrimestre de 2025 (período entre maio e agosto), cumprindo uma exigência legal que visa garantir o escrutínio sobre os investimentos na área.
Os números apresentados pelo Secretário Luís Ferreira Filho indicam um investimento robusto de R$ 239.348.119,64 milhões no período, o que representa 25,8% da receita total do município. Este percentual supera significativamente o mínimo de 15% estabelecido pela Lei Complementar Federal 141/2012, um dado que, à primeira vista, reflete um compromisso acima da média com o setor. “Dez por cento a mais do que o mínimo previsto e um quarto do que a prefeitura arrecadou, investido na Saúde”, enfatizou o gestor.
Ferreira Filho destacou ainda uma “expansão exponencial” na oferta de serviços, mencionando um salto de 30 mil serviços em 2019 para 45 mil em 2024. As cirurgias realizadas também teriam aumentado de 2.500 para 4.500 no mesmo período. Tais avanços, segundo o Secretário, só foram possíveis “pela coragem de Cícero Lucena de investir em saúde de forma prioritária”, além de ressaltar que o pagamento aos profissionais passou a ser por produção.
No detalhamento dos atendimentos, a apresentação do Secretário trouxe números expressivos nas Policlínicas de atenção especializada: mais de 10 mil na Policlínica das Praias, quase 17 mil na do Cristo, e outros milhares em Jaguaribe, Mangabeira, Mandacaru e na Policlínica do Idoso. Na Atenção Primária, a cobertura informada alcança 86,57% do município, com 75,34% em Saúde Bucal. Foram 289.596 atendimentos individuais, 45.918 odontológicos, 236.416 procedimentos médicos/de enfermagem e 243.676 visitas domiciliares neste quadrimestre.
Contudo, como jornalista do D-Taimes, meu olhar se volta para além dos números. A despeito do panorama positivo desenhado pela gestão, a pergunta que se impõe é: como esses investimentos e essa expansão de serviços se traduzem na percepção e na realidade do cidadão comum? O próprio Secretário pontuou que “É natural das pessoas que não conseguem atendimento que gritem mais do que as que conseguem”. Essa frase, embora realista, acende um alerta: se há um volume tão grande de atendimentos, por que as queixas de falta de acesso ou de qualidade persistem?
A análise crítica da gestão pública exige mais do que a simples apresentação de dados quantitativos. É preciso aprofundar na qualidade dos serviços, na agilidade dos agendamentos, na disponibilidade de especialistas e insumos, e na real capacidade do sistema de absorver a demanda crescente sem comprometer a eficiência. A gestão por produção, embora possa otimizar recursos, também demanda fiscalização para garantir que o foco permaneça na saúde do paciente e não apenas na métrica.
A prestação de contas na CMJP é um passo fundamental para a transparência. No entanto, é responsabilidade contínua do legislativo e da sociedade civil questionar, ir a fundo e garantir que os milhões investidos se convertam efetivamente em saúde de qualidade e acessível para todos os joão-pessoenses, e não apenas em estatísticas favoráveis. O desafio é grande, e a vigilância sobre a “saúde prioritária” de João Pessoa deve permanecer constante.
